Título: Bancos aproveitam feriado e se calam sobre críticas
Autor: Mode, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2012, Economia, p. B3

A folga pelo Dia do Trabalho foi providencial para os principais executivos dos bancos de varejo do País. Com o feriado, puderam se manter em silêncio após as duras críticas da presidente Dilma Rousseff ao setor em rede nacional de rádio e televisão. Desde que as declarações do presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, irritaram o governo, o cuidado com as palavras foi redobrado. Nada indica que o panorama mudará. Como observou um interlocutor dos bancos, o discurso da presidente “foi mais do mesmo, mas em um tom mais alto”. A tendência é de que a reação dos bancos seja inversamente proporcional às ações do governo: pressão pública mais forte provocará mais retração. O governo considera tímida a redução dos juros promovida pelos bancos privados até agora. Por isso, aperta mais o cerco. Os bancos argumentam que os altos índices de inadimplência impedem quedas mais expressivas. Se fizerem isso, poderão ter novas perdas logo à frente. Em última instância, estão dizendo que a celebrada solidez do sistema financeiro nacional pode ser posta em risco.

Quem tem razão? Declarações do presidente do Santander, Marcial Portela, na semana passada podem dar uma pista. O principal executivo do terceiro maior banco privado do País disse que a inadimplência, aqui, é maior do que em todos os outros lugares em que a instituição atua. Em compensação, lembrou, o spread (diferença entre o que banco paga na captação do dinheiro e o que cobra no empréstimo) é o mais elevado do mundo. Pergunta inevitável: o spread é alto porque a inadimplência é alta ou a inadimplência é alta porque o spread é alto? Resposta de Portela: “Não sei o que vem primeiro.” A incerteza do executivo indica que os bancos podem não ter como fugir de novas reduções