Título: Senador abrigou no seu gabinete servidora demitida por Peluso
Autor: lLopes, Eugênia; Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2012, Nacional, p. A4

Felipe Recondo / BRASÍLIA Envolvido com o contraventor Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) não negligenciou suas relações com a cúpula do Poder Judiciário, mais especificamente o Supremo Tribunal Federal (STF), onde possui foro e será julgado criminalmente. Depois de ver o então presidente do STF, Cezar Peluso, constrangido a demitir a assessora Márcia Maria Rosado de um cargo de confiança no tribunal, o senador a contratou para outro cargo comissionado no Senado. Peluso havia nomeado Márcia Maria Rosado e o marido dela – José Fernando Nunes Martinez – para postos de confiança logo depois de assumir a presidência do Supremo. A contratação de ambos, que não tinham vínculo com o STF, desrespeitaria a súmula aprovada pelo próprio STF, que vedou a prática do nepotismo. Por isso, Peluso foi obrigado a exonerá-la em julho de 2010. Meses depois, Maria Rosado foi nomeada assistente parlamentar com lotação no gabinete de Demóstenes. Quando eleito líder do DEM na Casa, o senador levou Maria Rosado para a liderança da legenda, onde ela permanece mesmo após a renúncia do senador à liderança. Peluso afirmou que ele não pediu a Demóstenes que contratasse Maria Rosado. “Como também não sabia que ela tinha ido pra lá”, afirmou o ministro. Por meio da assessoria do DEM, Maria Rosado afirmou que no passado levou seu currículo para ser avaliado e Demóste-nes teria decidido contratá-la por causa de sua experiência profissional. Ela negou qualquer relação entre sua saída do STF e a nomeação no Senado.

Contatos. Com esse tipo de ação e por ter sido presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Demóstenes montou uma rede de contatos no Judiciário. Nas gravações feitas pela Polícia Federal, o senador ressalta que é importante para ele e Cachoeira manter relações próximas com integrantes dos tribunais superiores. Demóstenes tentaria usar esses contatos a favor dos interesses do esquema. Na época das gravações, comentou um ministro do tribunal, não era possível imaginar que Demóstenes usa- ria a porta aberta com integrantes da Corte para auxiliar a atuação de Cachoeira. A defesa do senador informou, em nota ao Estado, que recebeu o currículo de Maria Rosado, “dentre tantos outros diariamente recebidos em seu gabinete, tendo este se destacado pela qualidade”. Afirma ainda que o parlamentar “jamais empregou alguém a pedido de qualquer Ministro” e que ela “correspondeu plenamente às expectativas”.

Argumento

NOTA ADVOGADOS DO SENADOR DEMÓSTENES TORRES (EX-DEM) "O senador recebeu o currículo da senhora Márcia Maria Rosado, tendo este se destacado pela qualidade”

Deputado e ator

CACHOEIRA ESPELHA ‘PAPEL’

Alfredo Junqueira ENVIADO ESPECIAL / BRASÍLIA

Com 42 anos de vida artística, com 35 filmes e 40 novelas e programas no currículo, o deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ) usou jargões da profissão para pedir auxílio ao contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlos Cachoeira. “Depois eu quero falar com você porque aquele papel que vou fazer lá na novela, eu queria conversar contigo pra pegar umas dicas de como é”, pede Stepan. O contraventor havia ligado para Stepan, na época vereador do Rio, para parabenizá-lo pela sua recondução ao cargo. As conversas foram captadas pela Operação Vegas, em outubro de 2008. Stepan passa então o telefone para Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), que já era deputado federal e se identifica como diretor da Globo e reforça o pedido para Cachoeira ajudar Stepan, “para ele poder interpretar o senhor bem na novela”. Cachoeira não levou o pedido de Stepan a sério. E não há registros de que Stepan tenha participado de novela no papel de contraventor, empresário, articulador político ou lobista. A PF não confirmou se a conversa representava algum tipo de código. Mas, se não pôde colaborar com o deputado na época, Cachoeira não se negou a atender a outro pedido três anos depois. Em junho de 2011, Stepan pediu empréstimo no valor de R$ 179 mil, para quitar a compra de um apartamento. Stepan alega ter devolvido a quantia. Esse pedido, no entanto, transformou Stepan em alvo de inquérito iniciado na semana passada no Supremo Tribunal Federal (STF). “Minhas conversas com o Carlinhos eram só bobagem. Até porque eu não preciso do Cachoeira para fazer papel nenhum”, disse o deputado ao Estado. “Nas nossas conversas sobre o Botafogo, eu falo pra ele comprar o Messi.”