Título: Não vamos fazer nenhuma loucura, diz Dilma
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2012, Economia, p. B3

Nas três reuniões que teve ontem para explicar as mudanças no rendimento da poupança, a presidente Dilma Rousseff fez questão de destacar que o governo não planeja adotar nenhuma medida abrupta mais à frente. Foi mais enfática no encontro com dirigentes de centrais sindicais. "Nós não vamos fazer nenhuma gracinha, nenhuma loucura", garantiu ela.

A presidente admitiu preocupação com interpretações errôneas de que o governo congelará a poupança e pediu cautela na divulgação do tema. Mesmo sem citar o senador Fernando Collor - que em 1990, quando era presidente, determinou o confisco de recursos da aplicação -, Dilma disse que o assunto já provocou trauma suficiente no passado. Collor, hoje, é aliado do governo.

"Todo mundo sabe que mexer na poupança é uma medida arriscada, mas nós temos responsabilidade. Vamos manter a sua valorização e adaptá-la para a possível queda dos juros, em patamar menor do que 8,5% ao ano", insistiu a presidente.

No Palácio do Planalto, há receio de que a discussão da medida provisória, com mudanças na mais popular das aplicações, seja contaminada pelo clima eleitoral. Dilma, porém, está convencida de que pode vencer a batalha da comunicação.

Os sindicalistas elogiaram o pronunciamento da presidente, por ocasião do Dia do Trabalho, quando ela classificou de "inadmissível" a taxa de juro cobrada pelos bancos privados. Apesar de reiterar que não há motivo para a manutenção dessa "lógica perversa", ela disse não estar em guerra contra os bancos.

Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, passaram a tarde explicando que as mudanças na poupança não afetarão depósitos antigos e só valerão para os novos quando a taxa Selic ficar igual ou abaixo de 8,5% ao ano. A primeira reunião do dia foi com o Conselho Político, formado por presidentes e líderes de partidos da base aliada. Depois, entraram os sindicalistas e, por último, os empresários.

"Todos nós saímos da conversa convencidos da necessidade das medidas", resumiu o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). "Não mudando a regra do jogo no meio da partida e não mexendo em direito adquirido, por que ficaríamos contra?", perguntou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical.

Sem prejuízo. Munida do programa Power Point, Dilma repetiu como mantra que as alterações "não trarão prejuízo" aos pequenos poupadores. "Mas, se essas mudanças não fossem indispensáveis para a queda dos juros, seria preferível que a presidente não as adotasse agora", observou o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), lembrando a proximidade das eleições municipais.

Na avaliação de Dilma, o Brasil tem três nós a desatar: juros, câmbio e impostos. "Essa é nossa agenda e tenho certeza de que vamos dar passos históricos", argumentou ela. Disse, porém, que os problemas não serão resolvidos a curto prazo. "É preciso prudência".

No fim da reunião com os sindicalistas, Dilma se recusou a discutir a isenção do IR sobre a participação nos lucros das empresas e chegou a ser ríspida. "Vocês não sabem que a pauta aqui é poupança?", reclamou. "A senhora está brava, mas vai ter de nos ouvir", respondeu Paulinho, da Força Sindical. Dilma conseguiu escapar, marcando encontro para debater o assunto na terça-feira.