Título: Economistas já revisam projeção da Selic para 8%
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2012, Economia, p. B8

Mudança na rentabilidade da caderneta indica disposição do governo de ampliar os cortes no juro e economistas antecipam previsões

Alguns economistas já revisaram suas projeções para a taxa Selic em dezembro para 8% ao ano, diante da mudança nas regras da caderneta de poupança. O movimento surpreende pela rapidez e por se antecipar ao mercado de juros, tradicionalmente mais agressivo.

O diretor de Pesquisa para Mercados Emergentes da América Latina da Nomura, Tony Volpon, por exemplo, revisou sua previsão de 8,5% para 8%, "com o risco de vermos níveis ainda mais baixos". "Acreditamos que as mudanças na poupança apontam a intenção do governo de levar a taxa (de juros) para muito abaixo dos níveis atuais."

A Nomura se junta a outras duas instituições que já revisaram suas projeções para 8% no fim do atual ciclo de afrouxamento monetário. O banco Safra, que até então estimava a Selic em 8,5% no fim deste ano, também projeta a taxa em 8% tanto este ano como em 2013, destacando que a remuneração da poupança é hoje o maior obstáculo à queda. "Há sinais cada vez maiores de que o governo está inclinado a resolver essa distorção o quanto antes", disse o economista Carlos Kawall, em nota.

Outro que seguiu a mesma linha foi o sócio da Mauá Sekular e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo. Ele espera que a Selic recue a 8,5% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e, a partir daí, caia de novo para 8%, mantendo-se assim até o fim do ano.

"O mercado de juros já deu uma boa antecipada nessa alteração da poupança ontem. Hoje, estamos vendo um ajuste adicional, também sustentado por uma produção industrial fraca e pelo cenário internacional ruim", analisou o gerente de renda fixa da Leme Investimentos, Paulo Petrassi. "Um dos impeditivos para esse movimento de queda dos juros é a volta da inflação, mas, ao que tudo indica, isso só ocorrerá mais adiante."

"A mudança na poupança é um evento histórico. É o auge de um processo que começou com Fernando Henrique Cardoso, amadureceu com Lula e chega ao final com Dilma", comentou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. "Mas a taxa básica de juros no Brasil sempre foi muito alta. É adequado, agora, que a redução da Selic seja feita com um pouco de calma."

Perfeito projeta uma Selic de 8,5% no fim deste ano, mas não descarta uma revisão no cálculo. Segundo ele, embora as novas regras abram espaço para uma queda maior da Selic, existem outros fatores que precisam ser levados em conta. "Há problemas na carga tributária, problemas de inflação, que o governo tem de pensar com cuidado."

Rapidez. Ontem investidores estrangeiros foram surpreendidos pela rapidez do governo na mudança das regras na poupança. Já estava claro que a estrutura teria de ser alterada em algum momento, mas o ritmo é considerado acelerado no exterior.

"O governo deveria esperar mais, o processo está muito rápido", disse à Agência Estado o gestor para Brasil da britânica Somerset Capital Management, Kumar Pandit. Ele não esperava que o anúncio das novas regras poderia vir ontem, antes de novas quedas da taxa Selic.

Pandit adianta que terá de revisar algumas posições no mercado de ações do Brasil após as novas regras para a poupança. Ele acredita que a Bovespa poderá subir como reação de curto prazo, mas depois sofrerá com os temores sobre a alta da inflação. "No geral, não acho que é um movimento positivo do governo."

"O tema foi acelerado", concorda Luis Costa, estrategista de emergentes do Citigroup. Para ele, o câmbio será o principal termômetro do comportamento dos investidores estrangeiros nas próximas semanas. Embora o governo tenha como objetivo enfraquecer o real, uma queda muita rápida não é saudável, avalia. "Hoje não existe pânico (de estrangeiros), mas a preocupação aumentará se o real cair muito mais." / MÁRCIO RODRIGUES, FRANCISCO CARLOS DE ASSIS E DANIELA MILANESE (DE LONDRES)