Título: Indústria recua e PIB deve ser revisado
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2012, Economia, p. B9

Depois de uma breve recuperação em fevereiro, a produção da indústria nacional voltou a cair em março (-0,5%), informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado comprova que a tão esperada retomada da atividade ainda não aconteceu, apesar dos incentivos do governo e do ciclo de redução na taxa básica de juros iniciado em agosto do ano passado.

Apenas no primeiro trimestre de 2012, a indústria já acumula uma perda de 3,0%. O desempenho negativo traz uma perspectiva ruim para o Produto Interno Bruto (PIB) e deve levar a uma onda de revisões nas expectativas de crescimento não só para o período entre janeiro e março, mas também para 2012.

"A Pesquisa Industrial Mensal coloca um viés de baixa para o PIB do primeiro trimestre", disse a economista-chefe do Bank of New York Mellon ARX Investimentos, Solange Srour, que deve rever a estimativa de alta de 0,7% para o PIB do período. "Possivelmente, mais perto de algo entre 0,5% e 0,6%."

No Banco M. Safra, o economista Marcelo Fonseca rebaixou de 0,8% para algo entre 0,5% e 0,6% a previsão para o PIB do primeiro trimestre, e de 3,2% para 2,9% a expectativa de crescimento para o ano. "A recuperação é bem mais lenta do que se antecipava e os primeiros indicadores de abril mostram que não está havendo melhora substancial", justificou Fonseca.

Incertezas. O desempenho desfavorável da indústria no início de 2012 é causado não apenas pela falta de competitividade, mas também pelas incertezas do cenário externo, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Além disso, a desaceleração da economia brasileira é outro fator que está inibindo uma possível retomada das atividades produtivas da indústria", avaliou o Iedi. "A recuperação provavelmente ficará para o segundo semestre."

Em março, a redução na produção de bens intermediários (-0,9%) e de semi e não duráveis (-0,8%) puxou a queda. "São as categorias mais pesadas, respondem por 80% da atividade industrial", explicou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

Na outra direção, a produção de bens de capital (3,8%) e de bens duráveis (3,4%) evitou uma queda maior na indústria nacional, mas o saldo positivo dessas duas categorias foi impulsionado pela recuperação de parte das perdas da atividade de veículos automotores, com caminhões impulsionando a produção de bens de capital, e os automóveis a de duráveis.

"Você tem uma retomada de produção de veículos automotores em março, mas em patamar ainda abaixo do verificado no mesmo período do ano anterior", ressaltou Macedo.

Como resultado, na comparação com março de 2011, houve queda de 5,7% nos bens de capital, e um recuo de 4,7% na fabricação de bens duráveis.

A produção de veículos automotores recuou 7,5% no período, o que puxou a redução de 2,1% na produção da indústria nacional.

Nos próximos meses, a tendência ainda é de queda, na avaliação do professor Emerson Marçal, da Escola de Economia da FGV-SP. "Os cortes de juros podem gerar efeitos positivos sobre a atividade ao longo do ano. Enquanto isso não ocorrer, a produção industrial pode continuar caindo. Alguns setores industriais podem reduzir ritmo de contratações ou até mesmo demitir", alertou o professor.