Título: China freia e preço de minério desaba
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2012, Economia, p. B3

As exportações brasileiras para a China sofreram uma forte desaceleração. No acumulado em 12 meses até abril, as vendas do Brasil para o gigante asiático cresciam 29,5%. No quadrimestre, a alta foi de apenas 5%. E, em abril, os embarques caíram 2,9%. Três produtos representam mais de 80% das vendas para a China: minério de ferro, soja e petróleo. Conforme os últimos dados disponíveis, de janeiro a março, as exportações de minério e de petróleo para os chineses caíram 12% e 17%, respectivamente. Já os embarques de soja tiveram um excelente desempenho com alta de 126%. Segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o consumo interno de aço na China caiu por causa da desaceleração da economia, o que reduziu a demanda por minério. “Só que uma leve queda na China tem um impacto muito grande, porque o país produz metade do aço mundial”, diz. Nos dois primeiros meses do ano, as exportações de minério de ferro da Vale foram prejudicados pelas fortes chuvas em Minas Gerais, mas o ritmo de embarques já foi restabelecido em março e abril. O problema agora é a forte redução nos preços. No mês passado, a cotação média da tonelada de minério vendida pelo Brasil para o mundo caiu 21% em relação a abril de 2011, de US$ 127 para US$ 100. Em teleconferência com analistas, os executivos da Vale mantiveram o otimismo e defenderam que a desaceleração da economia chinesa, iniciada no final do ano passado, já está chegando ao fim.

Outros analistas acreditam que a perda de fôlego do dragão asiático será lenta e gradual, mas contínua. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês cresceu 8,1% comparado com igual período em 2011. O ritmo foi menor que a alta de 8,9% do quarto trimestre. A previsão do governo chinês é que a economia avance 7,5% em 2012. No ano passado, a meta era 8%, mas o crescimento ficou em 9,2%. A China está sendo afetada pela fraca demanda da Europa e dos Estados Unidos.

Commodities. De acordo com Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, não são apenas os preços do minério que estão caindo, mas de várias matérias-primas exportadas pelo Brasil. “Não há como escapar de uma queda nos preços das commodities, porque o PIB mundial está caindo”, diz Silveira. Ele projeta que o CBR(Commodity Research Bureau ), principal indicador global da cotação das matérias-primas, vai cair 7% este ano. Por enquanto, as únicas exceções tem sido os preços da soja e do petróleo, que se mantém robustos, ajudando a evitar um desempenho ainda mais fraco da balança comercial brasileira. As cotações da soja, inclusive, atingiram recordes históricos. Silveira explica que soja e petróleo são mercados mais líquidos e, por isso, sujeitos à ação de especuladores. Ele acredita que uma parcela dos recursos injeta-dos pelo Banco Central Europeu para reanimar a economia da região migrou para esses mercados. “Mas mesmo o fôlego da soja e do petróleo está acabando.” Rafael Bistafa, economista da Rosemberg & Associados, afirma que o fraco desempenho da balança comercial brasileira reflete a menor demanda internacional. “É uma nova tendência para as exportações”, defende. A recente valorização do real pode dar algum alento às exportações brasileiras, principalmente de manufaturados, mas uma recuperação importante só é esperada para 2013. No mundo, a previsão da OMC é de melhora nas trocas globais em 2013 e uma recuperação mais forte em 2014, quando a e conomia e uropeia pode retomar o crescimento.

Fôlego curto

21% é a queda do preço do minério de ferro em abril compa-rado com o mesmo mês do ano passado. A cotação da tonelada do produto exportado pelo Brasil saiu de US$ 127 em abril de 2011 para US$ 100 em abril deste ano

Vários países sofrem com crise na Europa

A crise europeia impactou as exportações de países ao redor do planeta. Na Ásia, muitas economias embasaram sua estrutura produtiva e seu comércio nas vendas para a União Europeia. Segundo um levantamento da Nomura Secutiries, as exportações asiáticas para a Europa caíram 5,2% em março. Os dados do comércio indiano em março registraram a primeira queda nas exportações desde 2009, com retração de 5,6%. O secretário de Comércio da Índia, Rahul Khullar, admitiu que as exportações da terceira maior economia da Ásia teriam um “ano difícil”. A Europa é o principal parceiro comercial da Índia. Na Coreia do Sul, abril foi o terceiro mês consecutivo de queda de exportações, também por conta da recessão na Europa e da desaceleração da China. A queda obrigou o sétimo maior exportador do mundo a rever suas metas de exportação para 2012. Só em abril, a queda nos embarques havia sido de 4,7%. Especificamente para a Europa, o recuou foi de 16,7%. “Não esperávamos que a crise fiscal europeia se aprofundaria e pensávamos que as exportações para a China seriam mantidas” , disse o vice-ministro do Comércio da Coreia, Han Jin Hun. “Acreditamos que nossas exportações serão inferiores ao que esperávamos”. O governo coreano tinha a meta de elevar as vendas em 7% em 2012.

No primeiro trimestre, dados mostram que as exportações do Leste Europeu também caíram, diante da queda do consumo dos maiores mercados da região. Resultados da balança comercial do Canadá, México, Estados Unidos, Peru e dezenas de países mostraram que essas economias também foram afetadas./JAMIL CHADE