Título: Conflitos agrários crescem 15% na gestão Dilma, aponta CPT
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2012, Nacional, p. A9

O primeiro ano do governo Dilma Rousseff registrou aumento de 15% no número de conflitos agrários no País, que passou de 1.186 em 2010 para 1.363 em 2011. Em contraste com anos anteriores, quando a maior parte dos confrontos derivava de ações radicais de trabalhadores, só 280 desses conflitos foram causados por invasões de sem-terra. Um total de 638 litígios – mais de 60% da estatística global – foi provocado em ações de despejo, expulsões, destruição de bens e ameaças de pistoleiros. Os dados compõem o anuário da violência no campo, divulgado ontem pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), vinculada à Igreja Católica.

‘Modelo equivocado’. Para o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo Steiner, esse quadro deriva do “modelo equivocado de desenvolvimento” do governo federal, que dá prioridade ao agronegócio e a obras que exercem pressão sobre as terras ocupadas por indígenas, quilombolas, pescadores e populações tradicionais. O dado positivo do anuário é que o número de mortes em decorrência desses conflitos caiu de 34 em 2010 para 29 em 2011. Entre as vítimas, 11 já haviam recebido ameaça de morte, como o casal de extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo da Silva, assassinado a tiros em maio de 2011, e do cacique guarani caiová Nísio Gomes, executado dentro da aldeia, na presença do filho, em novembro passado, em Mato Grosso do Sul. O corpo do indígena foi levado por jagunços e até agora não foi localizado.

Conforme a estatística, o número de ameaçados subiu de 125 para 347 no período –aumento de 177,6%. O total de agredidos também aumentou muito (138,9%), passando de 90 para 215. Em 2011, foram registradas 38 tentativas de assassinato, enquanto 215 trabalhadores foram agredidos e outros 89 acabaram presos.

Emboscada. O l ançamento do anuário, realizado na CNBB, contou com a presença do índio Valmir Kaiowá, que presenciou a morte do pai, Nísio, dentro da área reclamada pela comunidade e da agricultora Laísa Santos Sampaio, irmã de Maria Espírito Santo, assassinada junto com o marido numa emboscada no Pará. Estiveram também presentes o conselheiro permanente da CPT, dom Tomás Balduino, e o presidente da Comissão para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, dom Guilherme Werlang.

Batalha no campo

638 litígios, ou 60% da estatística global, foram provocados em ações de despejo, expulsões, destruição de bens e ameaças de pistoleiros

29 foi o total de mortes em 2011, ante 34 em 2010