Título: Em 2002, no pânico eleitoral, taxa foi a 23%
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2012, Economia, p. B4

Em julho de 2002, durante a crise de nervosismo no mercado financeiro na campanha eleitoral que levou Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, a taxa real de juros de mercado (transações de bancos e grandes empresas) atingiu 23,1%.

Lula, porém, conquistou a confiança do mercado, e o pânico foi eliminado. Em janeiro de 2004, o juro real já tinha caído para 9,2%. Pouco depois, ele voltou a subir. Em setembro de 2004, o BC recomeçou a elevar a Selic, a taxa básica de juros, depois de tê-la reduzido de 26,5%, pico do início do governo Lula, para 16%.

O novo aperto monetário levou a taxa básica até 19,75% em 2005, contribuindo para puxar o juro real de mercado para 13% em agosto. Em setembro de 2005, o BC voltou a baixar a Selic, que caiu até um mínimo de 11,25% no segundo semestre de 2007. O juro real teve nova mínima em junho de 2007, de 7%.

O aquecimento que precedeu a crise global de 2008 provocou mais um ciclo de alta da Selic neste ano. Em setembro de 2008, poucos dias antes do colapso do Lehman Brothers, o BC elevou a Selic de 13% para 13,75%. O juro real chegou a 9,6% em outubro.

Mas foi exatamente a grande crise global que deu o empurrão final nas taxas de juros reais, rumo a níveis menos destoantes do resto do mundo. A partir de janeiro de 2009, a Selic recuou até um mínimo de 8,75% em julho do mesmo ano, e aí permaneceu até abril de 2010. O juro real caiu para 4,9% em meados de 2009, a mínima histórica que precedeu a atual queda.

Mas o juro real voltou a subir. Com a novo ciclo de alta da Selic iniciado em 2010, e retomado em 2011 no começo do governo Dilma, o juro real de mercado voltou para 7,1% em junho de 2011.

A grande reviravolta na trajetória do juro real, porém, aconteceu com a surpreendente decisão do BC de baixar a Selic de 12,5% para 12% no final de agosto do ano passado, em um momento em que a inflação acumulada em 12 meses estava acima de 7% e do teto superior da banda da meta de inflação, de 6,5%.

A decisão foi duramente criticada por boa parte dos analistas, que temiam um descontrole inflacionário. Mas o BC foi feliz na sua aposta numa desaceleração mais forte da economia brasileira e no efeito desinflacionário da crise dos países ricos. A taxa de juros real entrou na rota que a trouxe a pouco mais de 2%. /F.D.