Título: Sem acordo sobre PLR, montadoras já enfrentam greves
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2012, Economia, p. B7

Depois de pagar valores recordes de Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) em 2011, as montadoras não estão entrando em acordo com os metalúrgicos neste ano. Com o argumento de perda de competitividade, agravada também por aumentos de custos trabalhistas, as empresas resistem em pagar aumentos salariais muito acima da inflação e de repetir montantes pagos por PLR que chegaram a R$ 15 mil por funcionário.

Em estado de greve desde a semana passada, os trabalhadores da General Motors de Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre, prometem aprovar o início da paralisação em assembleia marcada para amanhã, caso a GM não apresente nova proposta que atenda às expectativas da categoria.

"Vamos aguardar até o início da assembleia para avaliar qualquer proposta que a montadora apresente", diz Edson Dorneles, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí. "Se isso não ocorrer, o caminho será a greve", ameaça o sindicalista.

O presidente da GM América do Sul, Jaime Ardila, reconhece que o risco de greve é alto, mas alega que a montadora não tem flexibilidade para negociações nas mesmas bases do ano passado, pois os custos precisam ser controlados. "Acho que os sindicatos ainda não perceberam a situação delicada da falta de competitividade que a indústria vive atualmente e o risco que isso pode representar para a produção local", afirma Ardila.

Com data-base para renovação do acordo coletivo em 1.º de abril, os cerca de 2,2 mil metalúrgicos da fábrica gaúcha reivindicam reajuste salarial de 10%, o que representa 4,79% acima da inflação, além de PLR de R$ 9 mil, em caso de êxito no alcance de 100% de metas a serem acertadas com a empresa. Já a montadora oferece reajuste de 7% (aumento real de 1,93%) e PLR de R$ 6,8 mil, pouco acima dos R$ 6,2 mil acertados no ano passado.

As dificuldades em Gravataí levaram a GM a adiar o início das discussões sobre o pagamento da PLR na fábrica de São José dos Campos, interior paulista. A primeira rodada de negociações está prevista para quarta-feira.

"A luta será por uma PLR superior à de 2011, com pagamento em maio", afirma Vivaldo Moreira, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. No ano passado, os trabalhadores receberam R$ 11,2 mil, após forte mobilização.

No Paraná, os metalúrgicos da Volvo, de Curitiba, e Volkswagen, de São José dos Pinhais, também querem PLR mais elevada que a do ano passado. Apenas a Renault/Nissan, de São José dos Pinhais, já definiu, no acordo do ano passado, o valor de 2012 e 2013. Este ano, será de R$ 15 mil, ante R$ 12 mil em 2011.

Na Volvo, os funcionários querem ampliar o valor em 20%, de R$ 15 mil para R$ 18 mil. "Iniciamos as negociações e as expectativas são boas", diz Sérgio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba.

No caso da Volks, a situação parece mais complicada. O valor da primeira parcela da PLR, de R$ 6.136, foi definido no acordo do ano passado. O problema é o valor da segunda cota. Enquanto os sindicalistas prometem brigar para que a soma das duas fique em R$ 15 mil, a montadora acena com R$ 12,5 mil, valor já acertado com os metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e de Taubaté, no Vale do Paraíba (SP).

No ano passado, os 3,1 mil metalúrgicos da Volks no Paraná levaram R$ 11,5 mil em PLR, após 37 dias de greve que custaram caro para a montadora. Mas o troco veio rápido. No fim de março, a montadora anunciou que vai priorizar as fábricas de Taubaté e de São Bernardo no plano de investimento de R$ 8,7 bilhões previsto para o País até 2016. As duas fábricas vão se tornar as mais modernas e competitivas do grupo, desbancando a do Paraná, inaugurada há dez anos.

"Nos últimos anos, perdemos a competitividade no Paraná", diz Thomas Schmall, presidente da Volkswagen do Brasil. "Queremos investir lá também, mas seguramos por causa da falta de competitividade. Vamos começar nova rodada de negociação com o sindicato e espero resultado melhor que no ano passado."