Título: Remessa de lucros das montadoras despenca este ano
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/05/2012, Economia, p. B10

Os balanços das montadoras no primeiro trimestre mostram que as filiais brasileiras - que nos últimos anos foram importante pilar para que as matrizes enfrentassem a crise - estão reduzindo suas contribuições às sedes mundiais. Além da participação mais acanhada nos resultados financeiros e nas vendas, a remessa de lucros despencou.

Segundo dados do Banco Central, a indústria automobilística (veículos automotores, reboques e carrocerias) enviou para as matrizes US$ 329 milhões no período de janeiro a março, cinco vezes menos que os US$ 1,69 bilhão remetidos no mesmo período do ano passado. Em todo o ano de 2011, o setor automotivo foi o que mais enviou remessas ao exterior, uma soma de US$ 5,5 bilhões.

Neste início de ano, as quatro maiores montadoras do País, Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen diminuíram suas participações nos resultados globais, seja no financeiro ou nas vendas. A Ford registrou lucro global de US$ 1,4 bilhão no primeiro trimestre, 40% a menos que em igual período de 2011. A divisão América do Sul, que tem 60% das vendas no Brasil, participou com apenas US$ 54 milhões (3,8%), o menor ganho trimestral na região em oito anos.

No mesmo período de 2011, a região lucrou US$ 210 milhões, equivalentes a 8% dos ganhos da companhia na época. Apesar de reduzido, o resultado deste início de ano marca 33 trimestres seguidos sem prejuízos na América Latina. O Brasil, sozinho, é o terceiro maior mercado mundial para a Ford e vendeu, no trimestre, 78,9 mil veículos, o equivalente a 14,6% do total mundial. Há uma ano, essa participação era de 16,4%.

A Ford não comentou o assunto. A montadora acaba de anunciar a troca de comando no Brasil. Sai o brasileiro Marcos de Oliveira, que vai se aposentar, e chega o britânico Steven Armstrong, em 1º de junho.

Volatilidade. Para o sócio da consultoria americana The Hunter Group, Wim van Acker, o mercado brasileiro sempre foi volátil e, atualmente, enfrenta desaquecimento das vendas de veículos. Além disso, o real estava muito forte frente ao dólar e ao euro no primeiro trimestre, o que enfraqueceu ainda mais a competitividade dos produtos locais. "A soma disso é o resultado mais fraco das montadoras no Brasil".

No caso da General Motors, o lucro na América do Sul baixou de US$ 90 milhões nos primeiros três meses de 2011 para US$ 83 milhões neste ano. O Brasil participa com mais de 60% das vendas na região. O ganho global do grupo caiu de US$ 3,2 bilhões para US$ 1 bilhão no período.

O presidente da GM América do Sul, Jaime Ardila, diz que o resultado do primeiro trimestre é praticamente igual ao do mesmo período do ano passado e "muito melhor" que o do quarto trimestre (prejuízo de US$ 100 milhões), "o que nos deixa satisfeitos considerando os altos investimentos que estamos fazendo e o fato de o mercado estar muito mais difícil este ano."

Ardila reconhece que a rentabilidade do negócio tem diminuído consideravelmente para todas as empresas. E credita essa fase aos "preços de mercado muito baixos, concorrência acirrada, vendas em queda, crédito apertado e custos subindo".

O executivo aposta em uma retomada do mercado no segundo semestre, o que pode levar a indústria a registrar aumento de 1% a 2% nas vendas em relação ao ano passado, menor portanto que a previsão inicial da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de um crescimento de 4% a 5% - projeção que pode ser revista nesta segunda-feira.