Título: Me ajuda a resolver o problema com o francês pede Abilio em orações
Autor: Scheller, Fernando; Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2012, Negócios, p. B14

O impasse com o sócio francês Casino, que vai assumir o controle do Grupo Pão de Açúcar a partir de 22 de junho, domina os pensamentos de Abilio Diniz na hora de dormir.

O empresário, que tem o costume de rezar todas as noites, afirmou, durante palestra na Casa do Saber, em São Paulo, na noite de segunda-feira, que não pede nada nas orações, a não ser o seguinte: "Me ajuda a resolver o problema com o francês... E mais nada", disse Abilio, em referência ao conflito com o presidente do Casino, Jean-Charles Naouri.

As preces de Abilio estão ligadas às reduzidas perspectivas de arquitetar sua saída do grupo antes da data marcada para que o Casino assuma o controle do Pão de Açúcar. Ele mesmo já confessou a pessoas próximas que vê poucas chances de uma solução nos próximos 40 dias. As negociações, que estão em curso desde o ano passado, já esquentaram e esfriaram algumas vezes, mas nada faz Abilio e Naouri chegarem a um acordo. Entre as possibilidades levantadas para a saída de Abilio já se discutiu a compra de sua participação pelo grupo francês ou sua saída com determinados ativos.

Durante a palestra na Casa do Saber, o empresário se recusou a responder perguntas sobre a frustrada tentativa de compra do Carrefour, que motivou o rompimento com Naouri, há cerca de um ano, e sua posterior saída do Conselho de Administração do Casino. O empresário desenhou uma operação complexa, que envolveria o BTG Pactual e o BNDES, para a fusão do Carrefour com o Pão de Açúcar no Brasil e a entrada do grupo brasileiro no rol de acionistas mundiais da rede francesa. Caso o negócio tivesse ido adiante, no entanto, o Casino não ficaria com o controle do novo negócio, e sim dividiria o comando. Foi o estopim da discórdia entre as partes.

A partir de 22 de junho, quando os franceses assumem o controle, a posição de Abilio ficará enfraquecida. O Casino ganhará dois novos conselheiros, enquanto o Pão de Açúcar perderá dois. Abilio, que seguiria presidente do Conselho de Administração, continuaria a indicar o presidente executivo. No entanto, teria de escolher o nome a partir de uma lista tríplice elaborada pelo sócio francês. Outra possibilidade para o Casino seria aumentar o número de conselheiros de 14 para até 18, diluindo ainda mais a influência do empresário brasileiro na tomada de decisões.

Mais um capítulo dessa disputa começará a ser escrito hoje, em São Paulo, pois terá início o comitê de arbitragem solicitado pelo Casino, que alega que o sócio brasileiro descumpriu o acordo de acionistas do Pão de Açúcar. O diretor-presidente do grupo francês entende que Abilio escondeu dele que estava negociando a fusão com o Carrefour, seu grande rival na França.

Segundo fontes próximas a Abilio, ele demorou a informar Naouri a pedido do Carrefour, que precisava cumprir alguns ritos internos antes que a negociação fosse adiante. Mesmo assim, Abilio já teria admitido a amigos que a estratégia de manter segredo foi equivocada, apesar de sempre ter dito que, pelo acordo de acionistas, não era obrigado a informar o Casino antes que a proposta estivesse efetivamente encaminhada.

Viavarejo. Uma movimentação na Viavarejo, holding do setor de eletrodomésticos controlada pela Casas Bahia e pelo Pão de Açúcar, chamou a atenção do mercado esta semana. Ambas as companhias substituíram executivos e economistas por advogados de contencioso no Conselho de Administração. O movimento ocorre cerca de dois meses antes do fim do prazo que impede que qualquer dos sócios se desfaça de papéis da empresa. A união de forças com o império de eletrodomésticos da família Klein não foi exatamente pacífica. Depois de fechar negócio em dezembro de 2009, os donos da Casas Bahia exigiram alteração no contrato em 2010.

Na segunda-feira, o empresário disse a jornalistas que não vê as mudanças como uma forma de as empresas se armarem para uma disputa. "Quero crer que seja por acaso (os Klein terem escolhido um advogado de contencioso)", afirmou. "As pessoas que saíram estavam sem agenda", justificou. / COLABOROU CÁTIA LUZ