Título: Deputado pediu patrocinador para pesquisa eleitoral
Autor: Rizo, Alana; Fabrini, Fábio
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2012, Nacional, p. A4

O deputado federal Sandes Jú-nior (PP-GO) pediu ao contra-ventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, ajuda finan-ceira para bancar pesquisa eleito-ral. Numa conversa gravada pela Polícia Federal, o parlamentar re-corre ao bicheiro para obter R$ 7 mil para uma sondagem de inten-ções de votos à Prefeitura de Goiânia. O inquérito da Opera-ção Monte Carlo mostra que a quadrilha de Cachoeira, com in-teresse em contratos no municí-pio, trabalhava para emplacar a candidatura do senador Demós-tenes Torres (sem partido-GO) nas eleições deste ano. Sandes fazia lobby para ser vice do parlamentar, apontado como favorito em levantamentos internos de partidos aliados. “Cê não arruma um patrocinador pra uma pesquisa do Serpes (instituto de pesquisas que atua em Goiás), não? É R$ 7 mil”, diz o deputado ao bicheiro, num telefonema de 22 de agosto de 2011, interceptado pela PF. “Vê se fala com uns amigos seus lá de Anápolis. Sete mil conto, bem feita. Mil e cem entrevistados. Margem de erro é (de) dois por cento”, explica.

Dois cenários. Sandes informa a Cachoeira que a pesquisa simularia dois cenários, um com e outro sem Demóstenes. Consegue do bicheiro uma promessa: “Tá, eu vou olhar, tá bom?” Os dois falam sobre a possibilidade de Demóstenes ser candidato e o interesse de Sandes de compor a chapa. “Eu quero ser o vice dele, a não ser que ele não queira”, avisa o deputado. “Ele quer ocê de vice, rapaz!”, emenda Cachoei-ra. “Melhor do que eu não tem, não”, gaba-se o parlamentar. O Serpes informou ao Estado que Sandes Júnior costuma encomendar levantamentos, mas, no ano passado, nenhum foi feito. “Ele faz orçamentos, solicita relatórios. Mas não houve nenhuma pesquisa em 2011. Em março, abril deste ano é que fizemos uma para ele. Foi sondagem para a prefeitura”, explicou Antônio Lorenzo, um dos responsáveis pela empresa, sem dar detalhes sobre o pagamento. Segundo ele, a pesquisa não foi divulgada ou registrada na Justiça Eleitoral. Em laudo da PF, uma das sócias da Serpes, Ana Cardoso de Lorenzo, aparece como beneficiária de um repasse de R$ 56 mil da Alberto e Pantoja Construções, empresa acusada de lavar dinheiro no esquema do bicheiro, como revelou o Estado este mês. Lorenzo disse ontem que o valor consta do extrato bancário de Ana, que é sua mulher, mas não soube explicar o motivo: “Encon-trei um depósito da Pantoja. O que pode ter sido não tenho ideia. Naquela época, vendi lotes, mas não foi por R$ 56 mil”. Sandes diz ter recorrido a Cachoeira por causa da proximidade dele com empresários de Anápolis, importante centro financeiro de Goiás, mas, por fim, o patrocínio não teria se concretizado. Segundo ele, o contraventor seria apenas um intermediário, por causa da sua proximidade com empresários: “Sou de Goiânia e ele é um cara que nasceu em Anápolis, conhece todas as pessoas, os industriais. Mas encontrei com ele depois, num restaurante, e ele falou que estava muito cedo para a pesquisa.”

‘Poder na mão’. A PF também fez gravações que mostram que as articulações de Cachoeira em favor da candidatura de Demóstenes vêm desde o início do ano passado. Em registro datado do dia 13 de março de 2011, o bicheiro conversa com o vereador Santana Gomes (PSD), que propõe um café da manhã para o dia seguinte, a fim de combinar “estratégia beleza” para estruturar a candidatura do senador. O vereador, que chama o bicheiro de “chefe”, é objetivo em relação ao propósito da candidatura do senador: “O Demóstenes vai ser nosso prefeito, não vai?

Nós temos que ter alguém com o poder na mão, chefe”, diz o vereador. Cachoeira responde: “Exatamente, uai!”. Ao longo da conversa, o contraventor orienta Santa-na a procurar uma liderança política identificada apenas como “Braga”. O objetivo é garantir a adesão do político à chapa que seria liderada por Demóstenes.

DIÁLOGO

Sandes Júnior pede a Cachoeira que pague uma pesquisa eleitora

22 de agosto de 2011

Sandes: E o nosso amigo, vai ser candidato ou não? Cachoeira: Parece que tá cami-nhando aí pra ser, né? Sandes: Eu quero ser o vice dele, a não ser que ele não quei-ra, né? Cachoeira: Ele quer ocê de vice, rapaz! Sandes: Melhor do que eu não tem, não. Cachoeira: É, ele sabe disso. Sandes: Cê não arruma um patrocinador pra uma pesquisa do Serpes, não? É R$ 7 mil. Mil e cem entrevistados. Dois cenários: com Demóstenes e sem Demóstenes. Cachoeira: Esse negócio tá pra você de novo, hein Sandes Júnior? Sandes: Vê se cê fala com uns amigos seus lá de Anápolis. Sete mil conto, bem feita. Mil e cem entrevistados, que é muita gente pra Goiânia. Margem de erro é dois por cento. Cachoeira: Tá, eu vou olhar, tá bom? Sandes: Aí me dá um toque. Eu mandei um assessor dele lá hoje, nem falou que era pra mim, perguntou quanto que era. Sete mil reais a pesquisa com mil e cem entrevistados. Cachoeira: Não, pode deixar. Eu vou olhar. Te falo, OK? Sandes: Depois eu te ligo, abraço! Cachoeira: Outro, tch