Título: País tem queda recorde nos índices de mortalidade infantil, mostra IBGE
Autor: Nunes Leal, Luciana; Tosta, wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2012, Vida, p. A20

Dados do Censo 2010 divulgados ontem mostram queda recorde do índice de mortalidade infantil no País. Em 2010, a taxa chegou a 15,6 mortes de bebês de menos de 1 ano por mil nascidos vivos, o que representa uma redução quase à metade (de 47,5%) em relação aos 29,7 por mil de 2000. Apesar da queda significativa, a taxa brasileira continua muito distante da de países da América Latina como Cuba (5,04 mortes por mil nascidos vivos) e Chile (6,99). No ranking da ONU utili-zado pelo IBGE, o Brasil está no 87.º lugar de 197 países, entre o México (15,4) e a Venezuela (16,14). Os mais bem colocados são Cingapura (1,92), Hong Kong (2,03) e Islândia (2,06). Expansão das políticas públicas de prevenção, com programas como Saúde da Família, ampliação das transferências diretas de renda, maior escolaridade das mães, redução da taxa de fe-cundidade (número de filhos por mulher) e melhorias no saneamento foram fatores decisivos para a redução do índice de mortes na última década.

“A redução é extremamente expressiva e é resultado, acredito, de inúmeras transformações da sociedade brasileira, no que diz respeito não só ao sucesso das políticas públicas na área de saúde, mas de maior escolaridade das mães, melhores níveis de renda, melhor acesso à educação”, disse a presidente do IBGE, Wasmália Bivar. Para ela, como a taxa de fecundidade caiu, as mães têm menos filhos para cuidar e podem dar mais atenção a cada um deles. “Essa grande rede social permitiu fazer uma leitura do que estava acontecendo, detectar as doenças comuns em cada região, levar mais informações aos pais, capacitar agentes de saúde, sinalizar caminhos para as autoridades, que puderam traçar pla-nos de curto e médio prazo”, diz a professora Helen Campos Ferreira, do Grupo de Pesquisa de Saúde Integral da Mulher e do Recém-Nato, da Universidade Federal Fluminense (UFF). A professora diz que um novo salto será possível com a maior atenção à mãe e maiores cuidados no parto. “Existe uma alta incidência de mortes por assistência ineficaz no parto. As mães adolescentes precisam de atenção especial. Elas estão em crescimento e não geram ferro e cálcio suficientes para o bebê.”

Nordeste. A queda brusca da mortalidade no Nordeste, de 58,6%, foi determinante para a redução do índice nacional. Em- bora ainda tenha o pior índice, a taxa caiu de 44,7 mortes por mil para 18,5 por mil. Desde 1960, quando o Brasil tinha 131 mortes de bebês por mil nascidos vivos (índice do Afeganistão), a maior redução aconteceu entre 2000 e 2010.

Fecundidade. Dados divulgados ontem apontaram que o índice de fecundidade chegou a 1,9 filho por mulher, o que está a baixo da taxa de reposição, de 2,1 filhos por mulher. As projeções indicam estabilização e posterior queda da população brasileira a partir de 2030. O secretário de Vigilância emSaúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, diz que a queda é resultado de investimentos em pré-natal e assistência familiar. No caso de Hosana Severina dos Santos, de 33 anos, o pré-natal permitiu identificar a pressão alta no começo da gravidez e nas consultas ela recebeu medicação e orientação nutricional. “Não fosse o pré-natal, eu poderia ter perdido minha filha”, reconhece ela, que teve um pico de pressão aos 8 meses da primeira gravidez e foi submetida a uma cesariana de urgência. Sua mãe, Maria Severina dos Santos, de 68 anos, teve 11 filhos, perdeu 2 e nunca fez pré-natal. Helena Severina da Conceição, sua avó, deu à luz 13 filhos. Quatro morreram – dois logo ao nascer. / COLABOROU ANGELA LACERDA

2 PERGUNTAS PARA...

Marcia Furquim, epidemiologista, professora de Saúde Pública da USP

1. O que foi decisivo para queda tão acentuada da mortalidade infantil na década?

Há vários motivos: a expansão dos programas de saúde da fa-mília e de atenção ao parto e ao recém-nascido, o aumento das UTIs neonatais, a amplia-ção dos programas de transferência de renda, o crescimento da escolaridade das mães. E o aumento do salário mínimo, especialmente no Nordeste.

2. Como os fatores não diretamente ligados à saúde pesam na redu- ção das taxas?

No Nordeste, onde o salário médio é menor, o aumento do mínimo, que influencia nas aposentadorias, tem um impacto enorme porque atinge grande número de famílias. A maior escolaridade da mãe leva a mais acesso a informações, cuidado com a criança, maior procura do serviço de saúde.