Título: Câmara avalia falta de decoro de Protógenes
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2012, Nacional, p. A6

O Conselho de Ética da Câmara abriu ontem processo preliminar contra o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) por falta de decoro parlamentar. O pedido de cassação, apresentado pelo PSDB, aponta relações suspeitas mantidas por Protógenes e o araponga Idalberto Matias Araújo, conhecido por Dadá, preso na operação Monte Carlo da Polícia Federal. Dadá é acusado de ser um dos operadores da organização comandada por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), indicará até a próxima semana um relator para o processo entre os três conselheiros sortea-dos ontem: Amaury Teixeira (PT-BA), Jorge Corte Real (PTB-PE) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Caberá ao relator indicar ao conselho se deverá ou não abrir processo de cassação contra Protógenes. O ex-delegado é o primeiro alvo do Conselho. Apesar de responderem a inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por ligações com Cachoeira, os de-putados Carlos Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO) ainda não são investigados no órgão porque o PSOL encaminhou o pedido contra ambos à Mesa, o que ainda está sob análise da Corregedoria.

Cumplicidade. No pedido de abertura de processo – feito a partir de reportagem do Estado, do dia 10 do mês passado, em que são publicados diálogos gravados durante a operação Monte Carlo – o PSDB afirma que o deputado mantém uma relação de cumplicidade com o operador do grupo de Cachoeira e orientou o depoimento de Dadá em inquérito da Polícia Federal. As conversas foram gravadas em março e agosto de 2011. Dadá esteve a serviço de Protógenes na Operação Satiagraha, que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas. A corregedoria da PF abriu i nvestigação para apurar suposto desvio no comando da operação. “As circunstâncias deixam evidente que o representado (Protógenes ) não só mantinha relações próximas e pessoais com o araponga, como também orientou seu depoimento na Polícia Federal”, diz o texto da representação ao Conselho de Ética.

O PSDB argumenta ainda que o parlamentar mentiu em público, ao negar suas relações pessoais com Dadá. “Tem-se um parlamentar flagrado em contatos espúrios com integrante do submundo do crime”, afirma o documento. Outro argumento apresentado no documento é que Protógenes tinha “consciência do caráter antiético” de sua conduta, tanto que evitava ser visto na companhia de Dadá, escolhendo locais de encontro longe da visibilidade pública.

Para deputado, processo nem deveria ser aberto

O deputado Protógenes Queiroz esteve na reunião do Conselho de Ética e considerou que o pedido de abertura de processo disciplinar não deve sequer ser admitido pelo colegiado. “A reportagem é falsa, mentirosa, porque omite que os diálogos não correspondem à relação de Cachoeira.” Para ele, o PSDB foi induzido ao erro ao tomar a iniciativa da representação. Protógenes fez referência ao depoimento do delegado da PF Raul Marques na CPI, na terça-feira. Segundo ele, o delegado disse a verdade e não houve constrangimentos.