Título: O otimismo da indústria tem pouco fundamento
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2012, Economia, p. B2

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vislumbrou sinais de recuperação da atividade no mês de março. Todos os seus indicadores apresentaram, no mês, valores acima dos divulgados, para o mesmo mês, pelo IBGE, o que dificilmente se deve ao fato de a indústria extrativa não ser levada em conta pela CNI. Talvez o problema esteja nas diferenças de peso dos setores industriais nas duas séries de estatísticas.

O que nos parece importante é que a CNI detecta sinais de recuperação que o aumento de faturamento real, em termos dessazonalizados, de 0,9%, não parece justificar - ainda que superior ao do IBGE, que mostrou uma queda de 0,5% em relação a fevereiro. Cabe indagar o porquê desse otimismo no caso da CNI.

Convém lembrar que ele não pode ter sua explicação na melhoria da margem de benefício, que poderia decorrer de uma redução da taxa de juros, mas que se verificou apenas no mês seguinte. Os empresários podem ter descoberto uma melhoria da produtividade, pelo fato de o faturamento real crescer 0,9%, enquanto as horas trabalhadas aumentaram apenas 0,4%. Poderemos admitir, também, que o crescimento do emprego, de 0,3%, permite concluir que o desemprego não constitui mais uma ameaça para o nível da demanda doméstica. Embora, certamente, a manutenção de um nível elevado de ocupação decorra mais das dificuldades em encontrar operários especializados, de um lado, e, de outro, do custo elevado de demitir trabalhadores.

Aliás, quando se compara março de 2011 com o mesmo mês deste ano, registra-se uma elevação de 3,6% do faturamento, com um crescimento de apenas 0,7% das horas trabalhadas, o que sinaliza uma produtividade maior que a deste ano. A diferença entre horas trabalhadas e faturamento dá a evolução da massa salarial real, que em março foi de 6,3% na margem e, no trimestre, de 7,3%.

Se o maior problema da indústria brasileira está na baixa competitividade dos seus produtos, podemos considerar que neste ano, a partir da nova política industrial, esse problema vai aumentar em relação a outros países onde os salários reais (incluindo encargos sociais) são muito inferiores aos do Brasil.

O otimismo da indústria se baseia na perspectiva de uma taxa cambial que, com a desvalorização do real ante o dólar, poderá protegê-la da concorrência dos produtos importados. Mas o setor não pode contar com a permanência do efeito câmbio, que pode se reverter e que, de qualquer modo, afetará a produção com alto conteúdo importado.