Título: Dá para continuar reduzindo a taxa Selic
Autor: Roberto Cunha, Luiz
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2012, Economia, p. B4

O 0,64% do IPCA de abril, acima das expectativas, representou uma forte aceleração em relação ao 0,21% de março. Parte da alta era esperada, tivemos dois aumentos anuais, cigarros e remédios, sem os quais o resultado seria 0,46%. Também tivemos pressões na alimentação, além da alta sazonal do vestuário e reajuste (questionado na Justiça) no telefone fixo.

Sempre temos algum reajuste específico e variações sazonais. Assim, para avaliar as perspectivas para os próximos meses e o "espaço" para o BC continuar a redução da Selic, depois da decisão correta de mudar a remuneração da poupança, é importante analisar algumas tendências, tomando-se como comparação os resultados de 2011, quando o IPCA bateu no teto da meta de 6,5%. Com base nos grupos que compõem o IPCA, as previsões para 2012 são: a) preços administrados muito bem comportados (em anos de eleição as prefeituras tendem a moderar reajustes de ônibus), com uns 3,5%; b) bens não duráveis (alimentação e artigos de higiene e limpeza) pressionando um pouco no 2º. semestre, ficando próximos dos 7,0% de 2011; c) bens semiduráveis (vestuário) com uns 4,5%, bem abaixo dos 7,0% do ano passado. O fator determinante para os resultados neste ano é a "queda de braço" entre as pressões de demanda interna e o crescimento da renda, representada pelos serviços, que continuam sendo o "vilão" (variação perto de 9,0%) e a deflação nos bens duráveis (autos e eletroeletrônicos), decorrente do cenário externo fraco associado ás medidas de isenções fiscais para "recuperar" o setor.

A justificativa para uma projeção de IPCA em 2012 entre 5,0% e 5,5% (sem aumento de gasolina) é que os serviços não deverão ajudar (embora possam até desacelerar), enquanto os bens duráveis devem recuperar o "prejuízo" com a economia voltando a acelerar no final do ano, além do impacto do câmbio sobre seus componentes. O BC em suas projeções para 2013 (com juros reais mais altos e câmbio mais comportado), partindo de 4,5%, já apresentava um IPCA acelerando ao longo do ano. Se partirmos de 5,5%, com juros menores e câmbio desvalorizado, as projeções começam a ficar acima de 6,0%.

Entendo que para o atual BC, mesmo que não esteja "domesticado" (como o editorial de anteontem do Estado sugeriu), em 2012, desde que a inflação fique abaixo de 6,0% e a expansão acima dos 3,5% o resultado será considerado muito bom. Em termos de inflação não há maiores riscos, mas e se o crescimento (cujos fatores de impulsão não dependem apenas dos juros) não acelerar... e em 2013...