Título: Escolhas dos investidores criam risco de indexação
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/05/2012, Economia, p. B2

A mudança na remuneração das cadernetas de poupança teve um efeito surpreendente sobre a atitude dos investidores, que poderá trazer de volta a indexação.

A maioria das aplicações em títulos de renda fixa tinha vinculação com o DI, taxa interbancária que acompanha a Selic. Com a nova política monetária de redução da taxa Selic - cujo objetivo seria reduzir os juros praticados pelas instituições financeiras -, os investidores estão fugindo da remuneração pelo DI e optando principalmente por aplicações cuja remuneração está vinculada à taxa de inflação.

O mesmo parece estar ocorrendo com os papéis da dívida pública, uma evolução que havia sido prevista no Plano Anual de Financiamento (PAF), com a redução da participação na dívida pública das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) vinculadas à Selic. O PAF está dando preferência aos papéis prefixados (limite máximo de 41%) ou vinculados à taxa de inflação.

Devemos acrescentar que os investidores parecem mais atraídos pelos títulos privados (tipo debêntures) que oferecem até agora uma remuneração ligeiramente superior à dos papéis públicos. Isso pode se acentuar, se os títulos prefixados não levarem em conta o novo quadro da economia.

O problema que levantamos com esta análise é o risco de um aumento dos papéis da dívida vinculados à evolução dos preços, o que representaria um retorno à indexação, que arruinou nossa economia no tempo da hiperinflação e só foi domada com o Plano Real.

Para as empresas, a indexação da dívida representa um salto no escuro, especialmente se o prazo da operação é longo. Para o governo, a dívida real também fica desconhecida e pode ser causa de surpresas muito perturbadoras. Por isso, entende-se que o Tesouro esteja pronto a oferecer, por meio de títulos prefixados, uma remuneração um pouco maior que a de outras aplicações.

Achamos que o momento para introduzir essas inovações no sistema financeiro foi particularmente mal escolhido. A alta do dólar, enquanto continuarem as compras do Banco Central (BC), pode ter um efeito desastroso sobre a taxa de inflação, numa economia muito dependente de produtos importados, que até há pouco representavam um freio contra maior inflação. Os preços das commodities, como mostram os dados do BC, estão aumentando, favorecendo as exportações, mas também encarecendo as importações. Não parece um momento oportuno para correr riscos com a indexação.