Título: Grécia pode ter governo de tecnocratas
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2012, Economia, p. B3

Em um esforço desesperado para o que pode ser um dos capítulos mais dramáticos após a criação da União Europeia, o presidente da Grécia, Carolo Papoulias, propôs ontem a criação de um governo de “notáveis”, formado por pessoas fora dos círculos políticos. Ontem, o debate entre os partidos para a formação de um governo acabou em mais um fracasso e, para hoje, a presidência convocou t odos os líderes de forças políticas para uma reunião decisiva. Se a proposta de um governo tecnocrata não for aceita até quinta-feira, eleições serão convocadas para junho e os gregos vão às urnas com uma pergunta a ser respondida: se querem ou não continuar na zona do euro. Depois de quatro tentativas frustradas de formar um governo de coalizão nacional após as eleições de 6 de maio, que terminaram sem um vencedor claro, a Grécia sentiu o i mpacto que poderá causar na economia europeia. O mercado desabou e ouro, euro e petróleo sofreram forte debandada dos investidores. Alguns bancos gregos chegaram a perder 12% na Bolsa de Atenas. Na City de Londres, bancos admitiam que passariam a noite verificando se seus computadores estariam preparados para uma eventual moeda nacional grega, enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, falou ontem pela primeira vez em público sobre a possibilidade de a Grécia deixar o euro. Ela deu um recado claro: ou a Grécia cumpre o acordo ou terá de deixar a zona do euro.

Em Bruxelas, posição da Alemanha não é unanimidade. Há os que defendem uma maior flexibilidade com os gregos – ampliando os prazos para que o défcit seja corrigido e reduzindo a austeridade.

Sem unanimidade. Papoulias tinha a meta ontem de reunir os quatro maiores partidos para apresentar seu projeto de um governo tecnocrata. Mas o Syriza, de esquerda, se recusou a comparecer à reunião, alegando que não está disposto a legitimar um governo que apoie a austeridade . O governo técnico, no estilo que foi estabelecido por Mario Monti na Itália, seria a forma de romper o impasse entre as linhas dos partidos que, nas urnas, não conseguiram chegar a uma maioria clara. Evangelos Venizelos, líder dos socialistas do Pasok e negociador dos acordos com a Europa, anunciou ontem que apoiava o projeto. “Estamos dispostos a apoiar um governo nesse estilo, ainda que em princípio não queiramos um governo de tecnocratas.” Segundo ele, o Pasok só dará o sinal verde se sentir que os demais partidos apoiarão o projeto.

O líder conservador, Antonis Samaras, também apoia. Já Fotis Kuvelis, líder de Esquerda Democrática, rejeitou a ideia, alegando que colocar um governo de tecnocratas após as eleições seria o reconhecimento de que o sistema político grego fracassou. As eleições foram convocadas justamente por um governo tecnocrata, liderada pelo professor de uma universidade americana, Lucas Papademos. Enquanto a Grécia continua num limbo, pesquisas de opinião apontam que 72% dos gregos querem o fim do impasse a “qualquer preço”. 78% pedem que os políticos não permitam que Atenas saia da zona do euro, enquanto apenas 13% da população quer a volta da moeda local. Hoje o país passará por um importante teste. Terá de pagar a credores € 437 milhões, mas até agora ninguém sabe quem fará o desembolso do dinheiro, diante da falta de um governo. Se o dinheiro não for pago, a Grécia t erá dado um calote.