Título: Corrida tira até 1,2 bi de bancos gregos
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2012, Economia, p. B9

Para muitos experts, é o primeiro sinal de caos na economia da Grécia. Desde a última segunda-feira, entre € 700 bilhões e € 1,2 bilhão em dinheiro foram retirados por clientes do sistema financeiro do país.

A iniciativa demonstra a preocupação da opinião pública com os desdobramentos da crise política grega e o risco crescente de que Atenas seja obrigada a deixar a zona do euro e a União Europeia. Desde 2009, quando iniciou a crise das dívidas, mais de € 60 bilhões já foram retirados dos bancos, que sofrem problemas de capitalização.

A informação sobre os saques foi revelada pelas transcrições de conversas entre o presidente da Grécia, Carolos Papoulias, e os líderes partidários que até a terça-feira negociavam a formação de um governo de coalizão. O debate fracassou e, com isso, novas eleições tiveram de ser convocadas para 17 de junho, 41 dias depois do pleito passado, que não apontou uma maioria no Parlamento. Ontem, Papoulias nomeou Panagiotis Pikrammenos primeiro-ministro interino, até as eleições.

De acordo com o documento, Papoulias advertiu seus interlocutores que mais de € 700 milhões haviam sido retirados dos bancos apenas na segunda-feira. Citando o presidente do Banco Central da Grécia, George Provopoulos, o chefe de Estado afirma: "Provopoulos me disse que não se tratava de pânico, mas de grande medo que poderia evoluir para pânico".

A transcrição também revela que as autoridades acompanham o caso hora a hora. "Quando eu liguei, às 16h, as retiradas excediam € 600 milhões e atingiriam € 700 milhões. Ele esperava saques totais da ordem de € 800 milhões", advertiu Papoulias. Insensíveis ao drama, o líder da Nova Democracia (centro-direita), Antonis Samaras, do Partido Socialista (Pasok), Evangelos Venizelos, e Alexis Tsipras, da Coalizão Esquerda Radical (Syriza), não chegaram a um acordo para a formação de um governo de coalizão.

Ontem, o Financial Times indicou que os saques já teriam superado € 1,2 bilhão desde a segunda-feira, 0,75% do total de depósitos do país. Até fevereiro, segundo informou ao Estado a diretora executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Miranda Xafa, o sistema financeiro grego já havia perdido mais de 30% de seus depósitos desde o início da crise das dívidas soberanas, em dezembro de 2009.

Frágil. O problema é ainda mais grave porque o sistema financeiro local é um dos mais frágeis da Europa, segundo demonstraram os testes de estresse coordenados pelo Banco Central Europeu (BCE). Ontem, o presidente da instituição, Mario Draghi, afirmou que não lhe cabe decidir sobre a permanência ou não da Grécia na zona do euro, mas garantiu que a autoridade monetária seguirá "cumprindo seu mandato". Draghi, enfim, emitiu sua opinião: "Quero declarar que nossa forte preferência é de ver a Grécia permanecer na zona do euro".

Na terça-feira, em Berlim, o novo presidente da França, François Hollande, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, reafirmaram que desejam que Atenas permaneça no grupo de 17 países que compartilha a moeda única. Nas entrelinhas, porém, afirmaram que interpretarão o resultado das urnas em 17 de junho como "a vontade dos gregos".

Pesquisas de opinião realizadas até aqui indicam que o Syriza, um partido que deseja o rompimento do plano de socorro - mas não a saída do euro -, é o favorito para obter a maioria do Parlamento. "É muito bom que, a um mês da eleição, Merkel e Hollande tenham defendido a manutenção da Grécia no euro", entende Alexandra Estiot, analista do BNP Paribas.