Título: Protesto faz Dilma e Mercadante adiar visita a câmpus
Autor: Saldaña, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2012, Vida, p. A26

Para evitar uma manifestação de alunos e professores, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, desmarcaram na última hora uma visita ao novo prédio da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no câmpus de Diadema, região metropolitana. A Unifesp impediu a entrada de alunos e professores e houve manifestação na porta do prédio. Do lado de dentro, um coquetel ocorreu a portas fechadas.

Ate as 20 horas de quinta-feira, a presença de Dilma e Mercadante estavam confirmadas em evento para marcar a inauguração de uma nova unidade do câmpus. Estudantes e professores preparavam manifestação para reclamar das condições precárias do câmpus, mesmo após a inauguração da unidade - que tem dois prédios. Mas, ao saber da preparação do ato, o governo preferiu cancelar as visitas.

"Assessores do governo tentaram nos dissuadir, primeiros os alunos e depois os docentes", diz uma professora, que preferiu não se identificar. "A manifestação era pacífica e silenciosa, todos de preto e alunos com nariz de palhaço, o suficiente para chamar atenção. Eles preferiram não aparecer, afinal de contas, a campanha eleitoral já começou." O ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.

Além dos professores da unidade, que aderiram à greve nacional da categoria (mais informações nesta página), cerca de 300 estudantes foram para a frente da universidade na manhã de ontem, no horário marcado. A reitoria e a direção do câmpus proibiram a entrada deles no prédio.

Segundo alunos e professores, o reitor Walter Manna Albertoni, pró-reitores e convidados realizaram um coquetel em um dos andares do prédio, a portas fechadas. Segundo nota da Unifesp, "devido o cancelamento do evento ter acontecido no começo da noite do dia 17 de maio, não houve tempo hábil para desfazer toda a estrutura já montada. Isso inclui o serviço do coquetel e a presença de convidados". A reitoria informa que uma nova data será marcada.

Alunos que participaram da manifestação ficaram inconformados. "Levamos um bolo do ministro, batemos com a cara na porta no dia em que haveria solenidade e não pudemos entrar no prédio onde estudamos", desabafou a estudante Yasmin Lima, de 19 anos, do 2.º ano do curso de Ciências Ambientais. Mercadante tinha agendado um encontro com estudantes para receber uma carta de reivindicação. Não houve comunicação de que o encontro não seria realizado.

O MEC promete marcar um novo encontro com estudantes em 15 dias. De acordo com o Palácio do Planalto, o cancelamento da visita de Dilma à Unifesp foi por "motivos de agenda". A presidente e o ministro estiveram ontem em São Paulo.

Fragmentos. Essa unidade era esperada desde 2007, quando o câmpus foi criado na cidade. A Unifesp de Diadema conta agora com quatro unidades, em diferentes locais da cidade. Alunos reclamam que, muitas vezes, têm aulas pela manhã em uma unidade e, à tarde, em outra. A biblioteca, por sua vez, fica em outra. "O câmpus é fragmentado e essa unidade nova tem problema até na qualidade da água", afirma a estudante Yasmin.

A Unifesp ainda teve problemas com falta de professores e, a exemplo de outras federais, recorreu à contratação de docentes. Ontem, após manifestação, os alunos de Diadema resolveram entrar em greve juntos com os professores.

Já é o segundo câmpus da Unifesp em que os alunos entram em greve. No câmpus de Guarulhos, os alunos estão de braços cruzados há mais de 50 dias - em 2010, eles já haviam interrompido as aulas. O maior problema é a questão de infraestrutura. "Temos 34 salas, contando as emprestadas pelo CEU (vizinho ao câmpus). Já fizemos as contas: vai faltar sala no ano que vem com as novas turmas", diz a estudante Alessandra Fortunato, de 20 anos, do 4.º ano de Letras. A reitoria já fez diversos encontros para tentar resolver a situação, mas não houve acordo.