Título: Abertura de voto do Copom gera polêmica
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/05/2012, Economia, p. B6

A polêmica está criada. A partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no fim do mês, os votos sobre o que deve ser feito com o juro básico serão conhecidos nominalmente. A decisão provocou discussões calorosas. Há quem entenda que a informação vai gerar pressão sobre os diretores, que passariam a carregar a responsabilidade de fazer aquilo que o governo quer.

Os favoráveis à mudança defendem justamente o contrário: a transparência vai dar proteção a quem pensa diferente do grupo. O fato é que a divergência não é uma característica muito frequente da cúpula do Banco Central. Das 153 reuniões do Copom com ata realizadas até hoje, só 25 não tiveram consenso.

Levantamento feito pelo Estado mostra que boa parte das reuniões do Copom são unânimes nas decisões sobre o rumo da taxa Selic. Desde a criação do Comitê em 1996, o grupo se reuniu 166 vezes para decidir sobre o juro. Desses encontros, 153 reuniões tiveram ata divulgada dias depois. Em boa parte desses encontros - em 67% dos casos ou 102 vezes -, a reunião foi consensual.

Só em 16% das reuniões - ou 25 vezes, no total - não houve consenso entre os diretores do comitê. Em outros 26 situações, há ata, mas o documento não dá detalhes sobre o placar.

Para o Banco Central, a ocorrência de decisões sem consenso pode ser considerada "baixa". Por isso, argumentam pessoas da equipe econômica, haveria certo "exagero" na polêmica sobre as consequências da abertura dos votos.

Além do mais, o argumento a favor do voto nominal aponta que, normalmente, a divergência dura apenas uma reunião, já que na decisão seguinte o grupo volta, quase sempre, a ficar coeso. De fato, só em três situações o comitê permaneceu duas ou três reuniões seguidas sem consenso: duas vezes em 2007 e uma vez em 2000.

Momentos decisivos. O que o argumento oficial não leva em conta é que, normalmente, a divergência acontece em momentos polêmicos e importantes. As duas últimas vezes em que o grupo não votou junto foram em março deste ano - quando dois diretores não queriam aumentar o ritmo dos cortes de juro - e em agosto de 2011, quando a maioria optou pela surpreendente redução do juro e dois queriam manutenção da taxa.

Em outra situação, em março de 2010 - enquanto o então presidente Henrique Meirelles decidia se deixava ou não a instituição para voltar à política -, o grupo optou por manter o juro em 8,75%, a menor taxa até hoje. Mas três diretores queriam o aumento do juro porque a inflação dava sinais de que estava cada vez mais forte e poderia ser um risco mais à frente, especialmente em 2011.

Dias depois, o então diretor de Política Econômica, o economista Mario Mesquita, deixou o cargo em uma decisão que pegou muita gente de surpresa. Rumores afirmavam que ele foi um dos que votou contra e uma das razões da saída era a discordância com a adoção de estratégia mais leniente com os preços em ano eleitoral.

O juro passaria a subir a partir de abril, mas analistas afirmavam que o remédio poderia estar sendo administrado tarde demais. Meses depois, a inflação passou a subir com mais força. Fechou o ano passado em 6,5%, exatamente no teto da meta do Banco Central.

--------------------------------------------------------------------------------