Título: Crise contamina economia do País via crédito externo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2012, Economia, p. B2

A crise global chega ao Brasil pelo corte abrupto das concessões de crédito aos tomadores brasileiros, visível desde o final do mês passado. Depois dos empréstimos de US$ 800 milhões a duas companhias, em abril, nenhuma nova operação foi fechada, segundo o jornal Valor.

A corrida aos bancos gregos, com saques de US$ 75 bilhões, desde 2010 - e sua chegada, ainda que limitada (caso do espanhol Bankia), a outros países -, obriga as instituições a adotarem a política de rédea curta. Tampouco os tomadores brasileiros saíram a mercado, nos últimos dias, para não se expor a tentativa frustrada.

Se a crise é o principal motivo pelo qual os bancos reduziram a oferta de crédito, isso não quer dizer que o Brasil deva manter inalterada a cobrança de IOF para operações com prazo de até cinco anos, que eleva custos e cria desinteresse entre tomadores e credores.

O aumento do risco de crédito é um terceiro elemento negativo, decorrente da alta do dólar. Esta pode tornar mais caras as operações, pois não se sabe quanto valerá o dólar na hora da quitação. Uma deterioração da qualidade do empréstimo implica custo mais alto, mesmo que, de modo geral, o País continue sendo visto como atraente para instituições financeiras e investidores externos.

Como as empresas brasileiras estão, em geral, capitalizadas, a contaminação externa só será ameaçadora se afetar muito os planos de investimento - e, assim, ameaçar o ritmo de crescimento, que continua em desaceleração: o Índice de Atividade Econômica do Banco Central recuou 0,35% entre fevereiro e março.

"A expectativa é de que a janela (externa) possa se abrir para empresas de primeira linha em algumas semanas, mas talvez sejam janelas curtas", previu um diretor do banco HSBC, Alexei Ramizov.

Em resumo, o ambiente favorece a manutenção de um dólar forte, defendido pela Fazenda. Mas a correspondência é o real mais fraco. E essa é uma forma de contágio da crise do euro sobre a América Latina, alerta o analista Christian Lawrence, do Rabobank. "O real, o peso chileno e o peso mexicano continuam sendo moedas de risco, sujeitas à aversão", disse ele à correspondente do Estado em Londres, Daniela Milanese.

Há pouco a fazer com vistas à retomada do crédito externo, salvo a manutenção de uma condução econômica sensata e correções tópicas, por exemplo, na área tributária. A disposição de investimento das empresas depende não só de recursos, mas da confiança em que os objetivos da política econômica são sustentáveis.