Título: Temor é de pouso forçado da China
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2012, Economia, p. B3

A economia chinesa está desacelerando mais rápido do que o previsto e aumentam os temores de o dragão asiático realizar um "pouso forçado". A produção industrial da China reduziu o ritmo em abril, arrastada por investimentos decepcionantes, particularmente no mercado imobiliário, e por exportações mais fracas, abaladas pela crise na Europa.

No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês cresceu 8,1%, abaixo dos 8,9% do quarto trimestre de 2011, mas ainda indicava um "pouso suave" da segunda maior economia do mundo, que cresceu mais de 10% nos últimos anos. O governo chinês revisou para 7,5% a expectativa de alta do PIB este ano, mas o mercado achava que a meta seria batida com facilidade, como sempre ocorreu.

Só que, nas últimas semanas, foram divulgados dados que despertaram preocupação e muitas dúvidas. A produção industrial - um dos indicadores mais confiáveis da China, país que não é conhecido por boas estatísticas - cresceu 9,3% em abril, na comparação com abril de 2011, abaixo da alta de 11,9% em março frente a março de 2011. Foi o resultado mais fraco em três anos.

"Esse resultado é consequência da desaceleração das exportações e dos investimentos no mercado imobiliário. O esforço do governo em seu programa social de construção de casas não foi suficiente para compensar a desaceleração da economia", escreveu a economista Tao Wang, do banco UBS na China, em relatório para investidores.

Termômetro. Um termômetro da fraqueza da indústria é a produção de energia, que cresceu apenas 0,7% em abril em relação a abril de 2011, comparada com o avanço de 7,2% em março. Os investimentos em ativos fixos - um dos motores do crescimento da China nos últimos anos - avançaram 19% em abril, ante 20,4% de março. O maior tombo é dos investimentos em residências, cuja alta desacelerou de 15% em março para 4% em abril.

"O mercado imobiliário chinês continua enfraquecendo, mas não acreditamos que exista uma bolha. A construção e o investimento estão desacelerando, não colapsando", ponderou Janet Zhang, economista da Dragonomics/Gavekal, em Pequim, em entrevista ao Estado.

Uma das evidências da falta de investimentos é o ritmo dos novos empréstimos bancários, que somaram 682 bilhões de yuans (US$ 108 bilhões) em abril, bem abaixo do 1,01 trilhão de yuans (US$ 160 bilhões) em março. Os empréstimos de médio e longo prazos, característicos de obras de infraestrutura e do mercado imobiliário, responderam por apenas 19% do total de abril.

As importações cresceram só 0,3% em abril, ante avanço médio mensal de 25% em 2011. O número assusta, mas é resultado da queda de preço das commodities. Também é consequência das exportações fracas, pois muitas empresas importam insumos para processar e exportar.

As exportações avançaram 4,9% em abril, ante 8,9% em março, por causa da queda de pedidos dos EUA e da Europa. As vendas na Feira de Cantão, a maior feira de negócios do mundo e indicador da pujança das exportações, caíram 2,2%, a primeira contração desde o início da crise global em 2008.

Para Mônica Baumgarten de Bolle, sócia da Galanto Consultoria, está ocorrendo uma mudança estrutural nas fontes de crescimento da China: enquanto o consumo ganha espaço, recuam os investimentos e o setor externo. "É natural que, em meio a essa transição, haja uma desaceleração do crescimento."

O consumo doméstico tem compensado a queda dos investimentos e das exportações. Mesmo assim, registra leve desaceleração. As vendas do varejo cresceram 14,1% em abril, abaixo dos 15,2% de março - embora os analistas vejam precariedade nesse indicador. As vendas de carros (indicador mais confiável) subiram 12,5% em abril, revertendo queda no primeiro trimestre.

Preocupado com o desempenho decepcionante da economia, o governo reduziu os depósitos compulsórios dos bancos, aumentando os recursos em circulação. Pequim, porém, resiste a atuar com mais vigor na economia com medo de repetir o erro de 2009, quando o excesso de estímulos provocou inflação e aumentou o volume de créditos podres nos bancos estatais.

Para Stephen Green, economista do Standard Chartered, a China está longe de um "pouso forçado". Green mantém a confiança de que o governo chinês vai reduzir os juros e facilitar a recuperação na segunda metade do ano. A conferir.