Título: Militância do PT cobra de Haddad tema homofobia
Autor: Chapola, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2012, Nacional, p. A10

Após a polêmica causada pelo chamado ‘kit gay’ do MEC, lideranças do núcleo LGBT do partido apresentam hoje propostas ao pré-candidato

Enquanto o tema homofobia vem sendo tratado com cuidado na campanha do pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, a mi-itância gay do partido inicia uma pressão interna para a incorporação de propostas de combate à discriminação sexual na plataforma de governo do ex-ministro. Líderes do núcleo LGBT do PT se reunirão com Haddad hoje no diretório municipal para apresentar ideias de combate ao preconceito na capital paulista. “Nós não abriremos mão desta conduta”, garantiu Marcos de Abreu Freire, coordenador do grupo LGBT da Central Única de Trabalhadores (CUT) e pré-candidato da sigla à Câmara Municipal. O assunto vem sendo abordado com extrema cautela pela cúpula petista desde a polêmica do chamado o kit anti-homofobia – elaborado pelo Ministério da Educação durante a gestão de Haddad e cuja distribuição em escolas foi cancelada depois de protestos de lideranças religiosas.

Dentre as propostas que serão apresentadas hoje, o núcleo LGBT do partido pedirá que Haddad resgate e adote o projeto engavetado pela presidente Dilma Rousseff nas escolas. Se agregar essas demandas, Haddad terá a difícil tarefa de conciliá-las com as exigências feitas por lideranças religiosas nas costuras de eventuais alianças. “É uma questão que é possível convergir”, minimizou o chefe da coordenação da pré-campanha e presidente do PT municipal, vereador Antonio Donato. Os líderes da militância asseguram que não vão admitir que propostas sejam moeda de troca nas negociações. Militantes gays do PT recordam e cobram do atual pré-candidato as mesmas ligações estreitas que tinham com a atual senadora Marta Suplicy, ex-prefeita da capital. Por isso, a reunião de hoje será para apresentar Haddad à militância. “A parceria de Marta com o LGBT é inquestionável. Mas diferente da Marta, que tem uma relação histórica conosco desde os anos 80, o Haddad ainda tem uma história a ser construída”, disse Marcelo Hailer, militante gay.

Eixos. As propostas pregam o combate à homofobia em cinco eixos da administração: na educação, na cultura, na saúde, no transporte e no trabalho. Em educação, por exemplo, o grupo propõe uma campanha de incentivo a professores transgêneros nas salas de aula, além da adoção do kit gay – como ficou conhecido o material do MEC. Na área da saúde, o texto sugere o uso do nome social no SUS. Freire quer ainda que a criminalização da homofobia vire bandeira da campanha.

Cautela

ANTONIO DONATO VEREADOR (PT) “É uma questão que é possível convergir”

MARCELO HAILER MILITANTE LGBT “Diferente da Marta (Suplicy), que tem ligação conosco desde os anos 80, Haddad ainda tem uma história a ser construída”

PROPOSTAS

Educação - Escola Sem Homofobia: programa municipal de combate à discriminação nas escolas - Aplicação e divulgação do uso do nome social na matrícula e na lista de chamada - Campanha de incentivo a trans- gêneros dentro da sala de aula

Cultura - Programação específica na Virada Cultural - Lei de incentivo voltada para projetos culturais LGBT na cidade de São Paulo

Saúde - Uso do nome social por todo o corpo do SUS na cidade - Garantia de cirurgia às transgê- neros na rede municipal

Transporte - Nome social no Bilhete Único sem a necessidade de ter passado por cirurgia de adequação genital

Trabalho - Capacitação e inclusão de trans- gêneros no mercado de trabalho, inclusive na Prefeitura - Parceria com empresas no âm- bito no município para que contra- tem transgêneros