Título: Duelo pela retirada das restrições cambiais
Autor: Nakagawa, Fernando; Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2012, Economia, p. B8

Para quem ainda tinha dúvidas, o comportamento do mercado de câmbio, anteontem e na manhã de ontem, configurou que os investidores brasileiros estão em meio a uma queda de braço com o Banco Central. O mercado opera com forte volatilidade, pressiona as cotações do dólar para cima e diz que, devido ao aumento da aversão ao risco, existe forte demanda por proteção - hedge. O BC acata a argumentação e oferece contratos de swap cambial.

Mas os investidores não absorvem a totalidade dos contratos e a moeda norte-americana continua se valorizando. Por trás desse jogo existe o desejo de derrubar as medidas que a equipe econômica adotou no ano passado, para impedir a valorização excessiva do real.

O mercado gostaria de rifar a cobrança de IOF nas negociações com derivativos cambiais. Mas também receberia muito bem o fim do tributo nas operações de empréstimos estrangeiros diretos com prazos de até cinco anos.

Ocorre que a equipe econômica criou empecilhos a essas operações por entender que elas eram usadas principalmente para arbitrar os juros externos - mais baixos --com os domésticos - mais altos. E também por avaliar que havia um exagero nesse movimento, que estava prejudicando a indústria nacional e o crescimento, provocando desequilíbrios importantes na condução da economia brasileira.

Se realmente isso for verdade, podemos inferir que as medidas seriam retiradas assim que os juros domésticos estivessem em linha com as taxas internacionais, o que, aliás, tornou-se uma das grandes bandeiras do governo Dilma.

Porém, parece que a estratégia da equipe econômica foi atropelada pela mais recente onda de agravamento do cenário internacional. Somente este mês, com o aumento na probabilidade de a Grécia abandonar a zona do euro, o dólar acumula alta de 7,24%. A moeda norte-americana saiu do nível de R$ 1,90 para orbitar R$ 2,05.

Embora os analistas de mercado sejam os primeiros a dizer que a piora dos fundamentos não explica essa mudança tão acentuada na taxa de câmbio, ela está sendo um bom combustível para o mercado peitar o governo e o Banco Central. E isso era previsível. O fato é que, se podemos dizer que o BC foi perspicaz ao vislumbrar o efeito na crise na atividade econômica e cortou a taxa de juros quando ninguém via necessidade disso, o mesmo não é possível afirmar quando se trata do câmbio.