Título: BC volta a intervir e dólar cai a R$ 2,04
Autor: Nakagawa, Fernando; Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2012, Economia, p. B8

Cotação chegou à máxima de R$ 2,103, mas venda de US$ 1,3 bilhão em contratos pelo Banco Central fez a moeda americana recuar 1,73%

O Banco Central voltou a atuar nos negócios com o dólar ontem. Na quarta intervenção em menos de uma semana, a instituição negociou US$ 1,3 bilhão em contratos que equivalem à venda da moeda no mercado futuro. A ação surtiu efeito e a cotação, que chegou à máxima de R$ 2,103, encerrou a quarta-feira no menor preço do dia: R$ 2,043, em queda de 1,73%.

A intervenção ocorreu no fim da manhã, minutos depois de a moeda atingir o nível de R$ 2,10. Em Curitiba, o diretor de Política Econômica da instituição, Carlos Hamilton Araújo, explicou que a casa decidiu agir após perceber excesso de volatilidade nos negócios. "O BC age para que o mercado opere apropriadamente. O BC identificou que o mercado não operava de forma adequada e agiu."

O resultado da intervenção respalda a avaliação do diretor. Em leilão, o BC ofereceu até US$ 4 bilhões no mercado futuro e só um terço do montante foi comprado. Para o BC, se houvesse demanda efetivamente elevada, a venda poderia ter sido maior. Em outras palavras, a alta da manhã ocorreu sem muitos fundamentos, possivelmente pela ação de alguns especuladores.

A oferta do BC não surpreendeu bancos e corretoras, mas foi suficiente para apaziguar os ânimos. Após uma manhã de expectativa, operadores diziam no fim do dia que o BC mostrou que está atento e agirá mais vezes para evitar distorções. Essa leitura fez com que muitos compradores se retirassem dos negócios para não perder dinheiro, o que fez a moeda cair.

Carlos Hamilton ressaltou que a instituição não tem nenhum compromisso com um preço determinado do dólar. "O câmbio repercute (neste momento) a piora da aversão a risco internacional", afirmou.

Fluxo negativo. Diante do delicado quadro internacional e com novos sinais preocupantes na Europa, dólares continuam deixando o Brasil, o que explica a mudança de patamar da moeda que deixou a casa de R$ 1,80 em abril para R$ 2 nos últimos dias.

Nas três primeiras semanas de maio, operações financeiras foram responsáveis pela saída de US$ 5,2 bilhões do País, sendo US$ 2,8 bilhões apenas na semana passada. Nesse valor, estão transações como venda de ações e títulos, remessa de lucros e pagamento de empréstimos no exterior.

A saída de dólares só não é pior porque o comércio exterior trouxe US$ 3,7 bilhões no mês, o que amenizou parcialmente a remessa da moeda por operações financeiras. Mesmo com essa compensação parcial, as três primeiras semanas de maio amargam saída líquida de US$ 1,5 bilhão.

Bolsa cai. A aversão ao risco generalizada levou a Bovespa, mais uma vez, ao campo negativo. No pior momento do dia, o índice atingiu 53.028 pontos, com queda de 3,65%. No meio da tarde, desacelerou as perdas, acompanhando a melhora das bolsas em Nova York. Com isso, o Ibovespa encerrou com declínio de 0,76%, aos 54.619 pontos. Dos 16 pregões deste mês, a bolsa encerrou no vermelho em 12 deles. Com a queda de ontem, acumula queda de 11,65% no mês e de 3,76% no ano. O giro financeiro ficou em R$ 8,567 bilhões.

Pela manhã, as dúvidas eram sobre se a cúpula dos líderes da União Europeia resultaria em alguma medida efetiva para evitar a saída da Grécia da zona do euro. No início da tarde, um esboço do comunicado que deverá ser emitido no fim da reunião em Bruxelas pelos líderes da União Europeia destacou que o bloco aguardará as novas eleições na Grécia para ver se o novo governo implementará as medidas de austeridade acordadas no pacote de socorro do país.

As bolsas europeias também fecharam em queda. O índice Stoxx Europe 600 teve queda de 2,14%, o pior dia desde 23 de abril. Paris recuou 2,62%, Londres caiu 2,53% e Madri, 3,31%. Na Bolsa de Frankfurt, o índice DAX teve queda de 2,33%. Atenas recuou 1,79% e Milão caiu 3,68%. Em Nova York, o índice Dow Jones teve leve queda de 0,05%, o S&P 500 subiu 0,17% e o Nasdaq, 0,39%. / COLABOROU ALESSANDRA TARABORELLI