Título: Dólar caro faz turista reduzir gastos
Autor: Nakagawa, Fernando; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2012, Economia, p. B3

À medida que o dólar sobe, diminui o ânimo do turista brasileiro. Números apresentados ontem pelo Banco Central mostram que o gasto de viajantes no exterior caiu pela segunda vez seguida em abril e deve recuar novamente em maio. "São gastos diretamente afetados pelo câmbio, já que o dólar mais alto torna as viagens internacionais mais caras", explicou o chefe adjunto do departamento econômico da instituição, Fernando Rocha.

Até o dia 22 de maio, a conta paga por brasileiros em viagens ao exterior alcançou US$ 1,24 bilhão, mostram dados preliminares apresentados por Rocha. Isso quer dizer que a despesa chegou a US$ 56,2 milhões a cada dia do mês. O valor de maio é 7% menor que o de abril, quando o valor por dia ficou em US$ 60,3 milhões, ou US$ 1,8 bilhão no acumulado do mês. Mantida a trajetória, maio será o terceiro mês consecutivo de queda.

Nas agências de viagem, os preços mostram o efeito do dólar mais caro. Um pacote de oito dias para Orlando, nos EUA, por exemplo, custa US$ 2,4 mil. Em janeiro, a viagem sairia por pouco mais de R$ 4 mil. Hoje, chega perto de R$ 4,9 mil. A diferença é suficiente para pagar quase a metade de um pacote de sete dias para um resort em Porto Seguro, na Bahia.

Pacotes. No fim de março, ao reservar hotéis e carro em Miami e Orlando para a viagem de férias, o gerente de marketing Marcelo Coletti, de São Paulo, usou a cotação do dólar de R$ 1,80 para planejar os gastos com a família. Nos últimos dias, com a cotação flutuando acima de R$ 2, ele já estuda como fazer para evitar estouro no orçamento.

Viajando muito a trabalho, como representante de uma multinacional do ramo farmacêutico, Coletti já vem evitando gastos no exterior. Ao retornar do México na semana passada, por exemplo, deixou de comprar um iPad. "Vou esperar um pouco para ver se o dólar volta a cair e fazer uma reserva para a próxima viagem", comenta.

Aposta na alta. Na corretora Confidence Câmbio, uma das maiores casas de câmbio turismo do País, com mais de 80 filiais, o movimento não sofreu grande alteração nos últimos meses, apesar da alta acumulada do dólar de 6,8% no mês de maio e de 25,5% em 12 meses.

"Tem gente que deixa de comprar, mas também tem gente que compra apostando na alta", afirma o dono da empresa, Paulo Volpe. Especialista no assunto, ele mesmo não recomenda o dólar como investimento. "É uma opção de reserva para quem vai viajar, mas no longo prazo existem muitas outras opções mais seguras e rentáveis."

A assistente de marketing Beatriz Alencar, de 19 anos, está acompanhando, com tensão, a escalada da moeda americana ao longo deste ano. No fim de janeiro, fechou um pacote de intercâmbio para viajar para a Califórnia em agosto, com o dólar próximo a R$ 1,80.

Em abril, quando decidiu comprar as passagens aéreas, já se deparou com uma taxa de R$ 1,92. Agora, com a data da viagem se aproximando e a moeda americana acima de R$ 2, a preocupação é com o dinheiro que precisará levar.

Beatriz pretende comprar pequenas quantias mensalmente até a data de embarque e deixar a maior parte para a véspera, apostando na sorte. "Tinha planos de comprar uma câmera fotográfica profissional e um celular, mas vou ter de priorizar os passeios. E, mesmo assim, não vai dar para viajar todo o fim de semana como eu pretendia." / COLABORARAM CLEY SCHOLZ e BIANCA PINTO LIMA