Título: Produção industrial cai 0,2% em abril
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2012, Produção industrial cai 0,2% em abril, p. B5

Os dados de abril da produção industrial brasileira confirmaram um prolongamento do desempenho negativo do setor. Depois de um primeiro trimestre difícil, a produção nacional recuou 0,2% em abril, na comparação com março, segundo a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Houve influência das perdas nas atividades de alimentos e farmacêutica, mas os movimentos podem ter sido pontuais, o que abre espaço para uma recuperação nas próximas leituras. Entretanto, ainda preocupam os altos níveis de estoques de atividades como a de automóveis.

Embora o setor de veículos automotores - que inclui caminhões, automóveis, motores, chassis e peças - tenha registrado recuperação em relação a março, com alta de 2,4% em abril, a produção apenas dos automóveis acumula uma perda de 14,9% em 2012. Como resultado, a produção de bens de consumo duráveis teve um recuo de 10,3% no quadrimestre.

Os elevados estoques seguem sendo problema, na avaliação do economista Júlio Gomes de Almeida, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Há um problema localizado nos estoques de veículos que estava pressionando para baixo a produção industrial", afirmou Almeida, destacando que é preciso "remover esse calo" para a alta na produção ser retomada, daí a importância, na avaliação do economista, dos estímulos ao crédito para veículos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou na semana passada uma redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis populares, além de ter tomado medidas para expandir a concessão de crédito para a aquisição de veículos, numa tentativa de estimular a retomada da produção e evitar demissões nas montadoras.

No fim de 2011, a equipe econômica do governo já tinha tomado medidas para reaquecer o consumo de eletrodomésticos da linha branca, que surtiram efeito na produção do setor. Mas ainda não é possível dizer se serão eficazes também para a fabricação de automóveis, disse o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo.

"As medidas adotadas em outros períodos foram saudáveis para a produção, mas tem que conjugar com outros aspectos para ver se podem ter o mesmo efeito agora", disse Macedo. "A inadimplência é um fator a ser considerado para ver o impacto que as medidas vão ter dentro desse grupamento industrial.".

Para o economista Thovan Tucakov, da LCA Consultores, o ciclo de consumo de bens duráveis impede uma eficácia maior dos incentivos ao varejo e, consequentemente, à produção. Quem comprou carros ou eletrodomésticos como fogão e geladeira na virada de 2008 para 2009 tende a não trocar o bem agora. "As medidas tendem a trazer alívio para indústria, mas somente no segundo semestre e de forma menos pujante", disse Tucakov.