Título: A taxa cambial volátil preocupa o Banco Central
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2012, Economia, p. B2

Em maio, até o dia 25, o fluxo cambial ficou negativo em US$ 2,763 bilhões, resultado de um fluxo financeiro negativo de US$ 5,051 bilhões, compensado apenas parcialmente por um fluxo comercial positivo de US$ 2,288 bilhões. O valor do fluxo cambial negativo fez crer que o governo teria de modificar sua política de controle cambial e, notadamente, a extinção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre os empréstimos externos inferiores a cinco anos, intenção que até agora o ministro da Fazenda vem negando.

Deve-se reconhecer que o Brasil perdeu o charme aos olhos do investidor externo. A estagnação da economia explica boa parte dessa mudança, especialmente diante de um visível afrouxamento da demanda. Porém a volatilidade da taxa cambial parece ter responsabilidade na mudança de visão dos investidores estrangeiros, que se estende aos nacionais.

Ontem, a desvalorização do real ante o dólar chegou a 4,66% no mês e a 7,65% no ano. Se a desvalorização continuasse no mesmo ritmo, seria possível arriscar uma estimativa para sua evolução. Porém durante quatro dias ela recuou 4,66%; anteontem, aumentou 0,15%; e ontem, no meio da tarde, aumentava 1,10%.

Nesses últimos dias, parece que assistimos a uma reação do Banco Central (BC) contra a política da Fazenda. O BC ficou preocupado com a deterioração do fluxo cambial, que pode agravar as contas externas, e mais ainda ao verificar que a desvalorização começa a ter efeito na inflação, com a divulgação do Índice de Preços por Atacado na indústria, que passou de 0,89% para 1,32% de abril a maio, mostrando que, ao contrário do que se pensava, a taxa cambial de fato afeta os preços.

Em razão dessas preocupações, o Banco Central, contrariando a política da equipe da Fazenda, decidiu intervir no câmbio, oferecendo swap cambial em dólares para conter a marcha da desvalorização. Essas intervenções tiveram seus efeitos durante quatro dias, mas o BC não tem a capacidade de intervir todos os dias.

A volatilidade da taxa cambial impede que investidores estrangeiros possam planejar seus investimentos no Brasil, uma vez que fica impossível calcular o montante de que disporão para esses investimentos. E afeta também o planejamento das remessas de dividendos, um fator importante para os acionistas.

A nova política monetária vem assustando os investidores que até há pouco consideravam exemplar sua condução - fator que se soma ao problema cambial.