Título: Analistas preveem novo corte de 0,5 ponto em julho
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2012, Economia, p. B3

O corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic) na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de ontem era a aposta da grande maioria dos economistas. E, agora, já começa a se cristalizar um quase consenso em cima de um novo corte de 0,5 ponto na próxima reunião, no dia 11 de julho.

"É implausível imaginar que o cenário internacional vá se alterar até lá. É quase que lógico que haja espaço para mais uma redução de 0,5 ponto", disse o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros. Ele concorda com a análise do Copom de que o cenário externo é desinflacionário. Para ele, os preços das matérias-primas em queda compensam a valorização da taxa de câmbio.

Além disso, diz, a atividade econômica mais moderada do que o esperado contribui para que permaneçam "limitados os riscos para a trajetória da inflação", como disse a nota do Copom. Os dois fatores pesam igualmente na oportunidade atual de corte na Selic.

Para o gerente de análise econômica e riscos de mercado do Banco Sicredi, Alexandre Barbosa, o comunicado do Copom não deu o menor sinal de que o término do ciclo de cortes dos juros está próximo. Segundo ele, o conteúdo do texto divulgado não indica uma diminuição no ritmo de redução da Selic, o que pode confirmar as expectativas do banco de, no mínimo, mais uma queda de 0,50 ponto porcentual na taxa.

"Quando lemos o comunicado, não vemos um sinal de que (o BC) vai parar ou desacelerar", disse Barbosa, ressaltando que somente alguma novidade relevante na ata da reunião, que será conhecida na próxima semana, poderia trazer mudança nessa avaliação. "O comunicado não trouxe grande novidade e, até que se prove o contrário, (o corte) deve seguir nesse ritmo", destacou.

O economista disse que, por enquanto, continua com a expectativa de que a Selic encerrará 2012 na marca de 7,75%. Segundo ele, além da esperada redução de 0,50 ponto de julho, o BC deverá cortar os juros em 0,25 ponto porcentual no encontro seguinte do Copom.

Para os analistas, o fato de o comunicado divulgado ao final da reunião de ontem ter sido exatamente igual ao divulgado na reunião de abril também é uma mostra de que não deve haver alteração no ritmo de queda dos juros. "Com um comunicado idêntico, a tendência é o mercado pender um pouco mais de suas apostas para uma nova redução de 0,50 ponto porcentual", disse o economista sênior do Espírito Santo Investiment Bank (Besi Brasil), Flávio Serrano.

Ele destacou que, até agora, a curva de juros indicava divisão entre um corte de 0,25 ponto e 0,50 ponto na reunião de julho. "Mas é claro que, se amanhã houver uma melhora lá fora, isso pode segurar as taxas", disse. Ainda segundo o economista, a partir de agora, qualquer ajuste deve ser moderado, como já disse o próprio Banco Central. "E o comportamento do quadro externo deve mexer com as perspectivas no dia a dia."

Serrano lembrou também que a próxima reunião do comitê ocorrerá em um período sazonalmente favorável para uma inflação mais baixa, o que ajuda a abrir espaço para a continuidade do afrouxamento monetário.

"A decisão veio exatamente dentro do que esperava a maioria do mercado e dá a entender que não houve mudança de avaliação do Banco Central", disse Thiago Carlos, economista da Link Investimentos. "Provavelmente, o BC deve agora seguir nessa linha de parcimônia, com corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião."

Segundo o economista, após a reunião de julho do Copom, até é possível a existência de novas reduções na Selic, mas há ainda pontos que devem ser analisados com cuidado pela autoridade monetária. "Vai depender do cenário externo e da recuperação da atividade doméstica." / VINICIUS NEDER, MÁRCIO RODRIGUES E FLAVIO LEONEL