Título: Investidor tira US$ 5 bi do país em maio
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2012, Economia, p. B6

Maio registra firme saída de dólares do Brasil. Dados preliminares do Banco Central mostram que US$ 2,76 bilhões deixaram o País até a última sexta-feira. Mantido a tendência, será o primeiro mês com saída líquida de recursos desde dezembro do ano passado. O movimento explica boa parte da recente alta da cotação da moeda, que saiu da casa de R$ 1,80 em abril para o atual patamar de R$ 2. Ontem, após quatro quedas seguidas, o dólar subiu 1,51% e terminou o dia negociado a R$ 2,0170.

A saída de recursos do Brasil tem acontecido exclusivamente pela chamada conta financeira. Em operações como a venda de ações e títulos de renda fixa, US$ 5,05 bilhões deixaram o País nas quatro primeiras semanas do mês. O dado até a última sexta-feira é, comparativamente, o pior desde dezembro de 2008, quando US$ 6,2 bilhões saíram do Brasil em operações do segmento. Além do mercado financeiro, a cifra também leva em conta a remessa de lucros, empréstimos internacionais e investimentos produtivos, entre outras transações.

"A saída financeira está intimamente ligada à piora do cenário global. Hoje, há a chance real de saída da Grécia do euro, tivemos problemas em bancos europeus e os preços das commodities seguem em baixa diante de uma China que pode crescer menos", diz o economista da Rosenberg & Associados, Rafael Bistafa. Para piorar, começa a ganhar força a análise de que o Brasil tem perdido atratividade ante outros mercados.

IOF. Junto com essa piora do quadro macroeconômico, é possível notar o aumento da pressão por parte do mercado financeiro para que o governo retire tributos de algumas transações, em especial o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pago nos contratos de derivativos e aplicações de estrangeiros em renda fixa. Ontem, inclusive, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou via assessoria de imprensa de que uma medida deste tipo esteja em estudo.

Operadores do mercado de câmbio explicam que essa pressão tem gerado expectativa entre investidores que estariam, inclusive, "atrasando" algumas transferências de dólares para o Brasil.

O resultado do fluxo cambial só não é pior porque o comércio exterior segue positivo. Nos 25 primeiros dias de maio, o setor trouxe US$ 2,28 bilhões ao Brasil porque as exportações seguem maiores que a importação de mercadorias e serviços de outros países.

No acumulado do ano, a entrada de dólares ainda supera a saída em US$ 22,55 bilhões, sendo US$ 19,7 bilhões pela conta comercial e US$ 2,8 bilhões pela financeira. Ainda assim, o saldo está 48,6% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado.

De novo a R$ 2. A aversão ao risco em escala global empurrou os índices acionários para o vermelho e impulsionou o dólar. No mercado doméstico, a moeda norte-americana já abriu levemente acima de R$ 2,00 e acompanhou a piora de humor dos investidores até o fechamento da sessão.

Também sustentou o movimento do dólar a percepção de que o governo está confortável com o nível corrente da moeda, a esperada redução da taxa básica de juros ontem, e a disputa entre comprados e vendidos na véspera da formação da Ptax.

A preocupação com a situação na Espanha e os temores ligados à Grécia deprimiram o mercados, alimentando a demanda dos investidores por dólares em detrimento de grande parte dos ativos de risco no mundo. Nos EUA, o recuo dos dados de moradias trouxe mais apreensão. /COLABORARAM RENATA VERÍSSIMO e NALU FERNANDES