Título: Temor de resgate à Espanha abala UE
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2012, Economia, p. B11

Cresce o temor de que a Espanha tenha de recorrer a um resgate da União Europeia e investidores promovem uma fuga para ativos mais seguros pelo mundo. A turbulência abalou as bolsas e a taxa de risco da Espanha bateu novo recorde, obrigando a Europa a acenar com medidas de resgate.

A União Europeia dará um ano extra para que a Espanha cumpra sua meta de redução do déficit, no sinal mais claro até agora de que a situação é mais grave do que se imaginava. Além disso, Bruxelas sugere que o fundo de estabilidade do bloco seja usado para resgatar bancos, medida que Madri vem pedindo há meses diante da saúde precária de suas instituições.

Milhares de empresas e de cidadãos espanhóis também já começam a desconfiar de seus bancos. Dados do Banco Central Europeu (BCE) indicaram que, só em abril, os correntistas espanhóis retiraram dos bancos 31 bilhões. Na Suíça, empresas espanholas já buscam conselhos de bancos locais, onde manter o dinheiro seria mais seguro.

"A Espanha se encontra numa situação de desequilíbrio muito grave, especialmente em seu setor financeiro", disse Olli Rehn, comissário de Economia da UE. "Isso é algo que terá de ser lidado com urgência", disse.

O principal problema é a capacidade da Espanha em recapitalizar seus bancos. Há menos de um mês, o quarto maior banco do país, o Bankia, foi nacionalizado. Mas a estimativa é de que a instituição precise de pelo menos 19 bilhões para sobreviver. Uma esperança era de que o BCE anunciasse alguma injeção de liquidez no país. Mas, na noite de terça-feira, o Financial Times revelou que isso não ocorreria.

A punição do mercado foi imediata. A bolsa de Madri perdeu 2,5% ontem e as ações do Bankia caíram quase 9%. A contaminação foi generalizada. Londres, Frankfurt e Paris perderam entre 1,8% e 2,2%. A taxa de risco da dívida da Espanha bateu a marca de 6,7%. Quanto maior, mais caro fica para governos se financiarem. Grécia, Portugal e Irlanda tiveram de recorrer a pacotes quando a taxa chegou a 7% para bônus de 10 anos, já que estava claro que não teriam mais acesso a créditos do mercado.

Ontem, a vice-presidente do governo espanhol, Soraya Santamaria, decidiu fazer uma viagem de emergência aos Estados Unidos para falar da situação de Madri com o FMI e com o Tesouro americano. Para Chris Beauchamp, analista do IG Index, "a confiança de investidores está sendo reduzida a cada dia e pode ser uma questão de tempo antes que a Espanha peça ajuda."

O risco é o maior desde a introdução do euro na Espanha. Mesmo na era da peseta, a taxa era inferior e a última vez que chegou a tal nível foi há 17 anos. A tensão ontem chegou a perder força, quando a UE indicou que poderia pensar em um mecanismo para financiar os bancos, sem passar pelos Estados.

Porém, o alívio foi passageiro. Na Itália, a tensão voltou a contaminar os mercados e Roma não conseguiu vender o volume de papéis que esperava. Entre os investidores, a ordem foi buscar ativos seguros. Com isso, o euro caiu ao menor nível desde julho de 2010 ante o dólar. A migração também derrubou os títulos alemães a níveis históricos. Aqueles com vencimento em dois anos pagavam juros de 0%. Os títulos de dez anos, apenas 1,2%, menor taxa já registrada.

Twitter. O dia também foi cercado por uma confusão nas informações. O FT havia divulgado a negativa do BCE em ajudar o governo espanhol a recapitalizar os bancos. Horas depois, o BCE, por seu Twitter, tentou desmentir a informação. Mas deixou claro que os fundos europeus "não podem ser proporcionados" pelo BCE. O que era para ser um desmentido acabou confirmando a notícia. Minutos depois, o BCE emitiu novo comunicado, sem a última frase.

Mas o estrago já estava feito. Luis de Guindos, ministro da Economia da Espanha, também se apressou a desmentir que o governo tivesse pedido ajuda ao BCE. "Escute mais ao governo e menos o Financial Times", disse.