Título: Crise afetou investimentos e derrubou PIB
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2012, Economia, p. B3

A queda nos investimentos foi uma das principais causas da estagnação econômica no primeiro trimestre. Com empresários retraídos diante das incertezas da crise internacional e da menor perspectiva de crescimento interno, os dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados ontem mostram que a oferta de crédito público tem sido insuficiente para incentivar o empreendimento privado.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que dimensiona os investimentos, caiu 1,8% no primeiro trimestre, ante o quarto trimestre de 2011. A queda na produção nacional de máquinas e equipamentos foi o principal motivo do recuo.

Esse é o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009 e alinha três trimestres seguidos de queda na margem. Em relação a igual período de 2011, o recuo foi de 2,1%, maior queda desde o terceiro trimestre de 2009.

Apesar da decisão deste ano do governo, de injetar mais R$ 45 bilhões do Tesouro no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - somando-se aos R$ 240 bilhões já aportados desde a crise de 2008 -, a taxa de investimento caiu para 18,7% do PIB. No primeiro trimestre de 2011, estava em 19,5%.

"O lado negativo na ótica da demanda foram os investimentos, muito afetados pela produção nacional de máquinas e equipamentos, incluindo a indústria automotiva", disse a gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

A indústria de transformação caiu 2,6% ante avanço de 0,1% no PIB industrial, no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2011. A gerente do IBGE explicou que a produção de caminhões e ônibus, afetada por paralisações causadas pela mudança na tecnologia de motores - adaptados para um diesel menos poluente -, puxou o desempenho para baixo.

"Mas não foi só isso que gerou essa queda no setor de máquinas e equipamentos", destacou o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. A equipe da consultoria faz um cálculo separado da FBCF, dividida em três áreas: construção civil; máquinas e equipamentos, e investimentos em lavouras permanentes. Na construção civil, houve alta de 1,5% no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2011, após alta de 0,7% no período anterior.

Já a FBCF levando-se em conta apenas máquinas e equipamentos recuou 3,5% no primeiro trimestre ante período anterior, aprofundando a queda de 1,3% no quarto trimestre do ano passado, segundo cálculos da LCA.

Máquinas e equipamentos representam cerca de 60% do investimento (FBCF), segundo Borges. Por isso, o economista defende medidas específicas para investimentos em máquinas, como a redução de tributos ou a instituição da depreciação acelerada, oferecendo benefício fiscal a quem comprar maquinário.

Segundo Borges, houve desaceleração nas consultas a financiamentos no BNDES no início do ano, comprovando que oferecer mais crédito não basta para aumentar o investimento.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, concorda que não falta crédito para investir. A freada brusca nos investimentos deveu-se ao menor apetite dos empresários por causa do cenário externo. Diferentemente de 2008, "o pior da crise pode não ter sido atingido, e por isso quem quer investir espera para ver", diz Vale.