Título: Presidente submeteu artigos do Código a um espancamento
Autor: Moura, Rafael Moraes ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2012, Vida, p. A22

O texto do Código Florestal só foi apro- vado pela presidente Dilma Rousseff depois de ela ter submetido os arti- gos a um vigoroso “espancamento”. Nos últimos 15 dias foram intermináveis as reuniões diárias para destrinchar o texto do Có-

digo Florestal. Algumas delas chegaram a durar até nove horas, inclusive nos fins de semana, envolven- do os ministros do Meio Ambiente, Izabella Teixei- ra; da Agricultura, Mendes Ribeiro; da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; da Advocacia-Geral da União, Luis Inácio Adams; e do Desenvolvimento Agrá- rio, Pepe Vargas. E se houve algum vencedor nesse processo de discussão, ele pode ser chamado de Pepe Vargas, último a entrar no grupo, mas que conseguiu asse- gurar no texto final os benefícios em r elação à pe- quena propriedade. A presidente Dilma Rousseff estava obcecada em conseguir uma fórmula para resgatar o texto que havia sido aprovado no Senado, considerado mais equilibrado nas reivindicações entre ambien-

talistas e ruralistas. Dilma exigiu que fossem levantados dados so- bre a estrutura fundiária do País, o que permitiu que ela pudesse definir a dimensão dos vetos ao texto aprovado pela Câmara – entre eles, o polêmi- co artigo 61, que Dilma considerava “inaceitável”, por considerar que ele permitia anistia aos desma- tadores. A presidente também queria saber quantas pes- soas estão em que módulos e onde eles estão locali- zados. Com o cenário traçado, a presidente desco- briu que 81% das propriedades rurais no Brasil têm até dois módulos. Para estas pequenas proprieda- des, decidiu a plicar r egras menos exigentes na re- cuperação das matas. “Ela quis um tratamento di- ferenciado para realidades diferentes”, observou

um interlocutor. Como próximo passo, a ministra Ideli Salvat- ti, das Relações Institucionais, e os ministros que participaram das várias rodadas de negocia- ções deverão iniciar uma série de reuniões com os parlamentares a fim de vencer resistências e convencê-los que o texto proposto pelo gover- no “é o melhor para o País”. Mas, apesar da enge- nharia legal montada, nada garante vida mansa no Congresso. O Planalto defende que o texto é bom porque 81% dos proprietários rurais foram mais preser- vados e não trabalha com a hipótese de os vetos serem derrubados. Tampouco considera que a medida provisória que será enviada para resta- belecer o texto do Senado seja rejeitada.