Título: Após 60 anos, o brilho da rainha
Autor: Lapouge,Gilles
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2012, Internacional, p. A14

A rainha Elizabeth está sendo refeita. Ela está acostumada Desde pequena, os pintores e restauradores do célebre Museu Madame Tussauds, em Londres, remodelam o rosto da rainha à medida que os traços dela evoluem, adquirem rugas. O caso começou em 1928. Elizabeth tinha 2 anos quando sua primeira efígie entrou no Madame Tussauds. Hoje, ela tem 85 anos e, apesar de bem conservada, estão fazendo a 23ª versão da rainha por ocasião de seu jubileu de diamante.

O evento celebra os 60 anos de reinado. Bela performance. A comemoração deveria começar em 6 de fevereiro, aniversário da ascensão de Elizabeth ao trono após a morte de seu pai, George V. Mas, em fevereiro, o céu é muito sombrio em Londres. Por isso, realizarão o jubileu entre hoje e quarta-feira, um ano após o badaladíssimo casamento de seu neto, o príncipe William, com a bela Kate Middleton.

Pode-se verificar que a família real - tão abalada nos anos 90 (em especial em 1992, que a rainha batizou de annus horribilis) pela má conduta de alguns rebentos, a separação de casais, a morte trágica, em Paris, em 1997, da bela Lady Di, mulher infeliz do príncipe Charles - recuperou dignidade, sabedoria e, quem sabe, virtude. Alguns estavam preocupados com a saúde do marido da rainha Elizabeth, Philip de Edimburgo, que tem 90 anos e sofreu recentemente uma crise cardíaca. Hoje, as coisas se tranquilizaram.

Alguns ironizam o protocolo obsoleto das celebrações. Estão errados. Embora a família real não tenha mais poder, ela conserva, quase intacto, o que faz a essência da monarquia: a sacralidade. Apesar do que há de caduco e de ridículo, há sentido no fausto e na pompa do jubileu: Elizabeth reina sobre 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, sendo a chefe de Estado de 16 países e chefe de outras 54 nações unidas por uma língua comum, através da Comunidade Britânica. Mas também no tempo: a rainha reina nos séculos dos séculos. Essas carruagens douradas, esses "soldadinhos de chumbo" que montam guarda com seus grandes capacetes emplumados, há quatro ou cinco séculos, diante do Palácio de Buckingham, esses príncipes de Gales e esses duques de York que parecem sair de uma peça de Shakespeare, todas essas velharias atestam que a monarquia escapa à corrosão dos anos. Ela existe fora do tempo, ou melhor, acima do tempo.

De resto, Elizabeth, por causa de sua longevidade, parece pairar acima das turbulências da história: dirigiu ambulâncias na Londres arrasada sob as bombas alemãs, na guerra, e viu desfilar diante de seu trono 12 primeiros ministros.

O fausto desse jubileu mostra que a corte britânica reencontrou seu brilho após os tropeços dos anos 90. Segundo sondagem do jornal de esquerda The Guardian, 66% dos ingleses amam a monarquia e 10% desejam a república. A mesma sondagem revela que 48% gostariam que o príncipe William sucedesse à avó e não o príncipe Charles.

Um evento de alcance espiritual e histórico, o jubileu mostra que a instituição milenar, apesar de ter sido despojada, ao longo dos séculos, dos ouropéis de sua grandeza, perdura e se irradia sobre a Terra, como também sobre aqueles mares que outrora asseguraram o triunfo do Império Britânico. Hoje ainda, em virtude de um decreto do século 16, a rainha Elizabeth é a proprietária de todos os golfinhos e baleias que nadam nas águas do império

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK