Título: Cubanos reclamam de condições na Espanha
Autor: Minder, Raphael
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2012, Internacional, p. A16

Quase dois anos depois de a Espanha ter negociado a libertação de 115 presos políticos cubanos e de ter abrigado o grupo em território espanhol, os dissidentes do regime de Fidel e Raúl Castro reclamam das condições precárias que têm em seu novo país.

O caso dos dissidentes é um dos principais exemplos das dificuldades encontradas pelos mais de 5 milhões de imigrantes que chegaram à Espanha durante o crescimento do país, mas hoje enfrentam uma dura crise econômica.

Alguns desses cubanos estão realizando protestos frequentes no centro de Madri e em outras cidades espanholas para exigir que o auxílio financeiro que recebem do governo seja ampliado.

"É difícil ter simpatia sendo um recém-chegado a um país que tem hoje mais de 5 milhões de desempregados", disse Ricardo González Alfonso, jornalista cubano que estava no primeiro grupo de dissidentes que chegou em Madri.

O desemprego entre imigrantes chegou a 37% - número acima da média nacional de 24,4%. "Mas nossa situação é desesperadora e não sei como alimentar minha família depois do fim deste mês."

Alguns dos dissidentes reclamam que o governo espanhol está dificultando ainda mais suas condições de vida. Os cubanos insistem que, como refugiados políticos, têm uma situação ainda mais complicada do que outros imigrantes, já que não têm a opção de poder retornar ao país de origem.

González Alfonso foi preso em março de 2003 e sentenciado a 21 anos. Enquanto ele e outros dissidentes são agradecidos por terem deixado o cárcere antes do fim de suas sentenças, alguns dizem que estariam mais felizes de volta em Cuba.

"É difícil para um governo diferenciar entre imigrantes, mas tem gente que veio para cá por vontade própria e pode voltar para casa, enquanto para nós não há nenhuma possibilidade de retorno a Cuba, que é onde eu gostaria de estar vivendo", afirmou González Alfonso.

"Fomos usados pelo governo espanhol"

Enquanto alguns dos dissidentes cubanos na Espanha continuam recebendo cerca de US$ 1.000 por mês de grupos de exilados em Miami, Ricardo González Alfonso afirma que o benefício de 1.300 a 1.600 recebido em subsídios do governo espanhol está suspenso desde o fim de janeiro.

De acordo com González Alfonso, o governo anterior, socialista, havia prometido manter por pelo menos 24 meses os subsídios, que ajudavam a pagar o aluguel de 750 da residência onde mora com a mulher e a filha no subúrbio de Alto del Arenal.

O novo governo conservador do primeiro-ministro Mariano Rajoy insiste que não quebrou promessas e diz que a decisão tem de ser vista no contexto dos pesados cortes no orçamento enquanto a Espanha se empenha para sanar suas finanças públicas.

O chanceler espanhol, José Manuel García-Margallo, disse, em abril, que o governo intensificaria seus esforços para ajudar os cubanos a encontrar emprego, mas sem oferecer mais dinheiro aos dissidentes. "Essa não é uma questão simples", disse García-Margallo.

Negociação. Há dois anos, quando o então chanceler espanhol Miguel Ángel Moratinos negociou a liberdade dos dissidentes, afirmou que o acordo ajudaria a fortalecer os laços da Europa com Cuba. No entanto, isso também não funcionou como planejado.

A União Europeia continua mantendo relações limitadas com Cuba, exigindo melhorias na situação dos direitos humanos. Moratinos não quis comentar a situação atual dos dissidentes na Espanha, afirmando que a questão era agora é responsabilidade de Rajoy. "Libertar essas pessoas foi uma grande satisfação e eles receberam tudo o que podíamos oferecer", afirmou.

Alguns dos dissidentes sentem-se usados pela Espanha. "O governo espanhol não estava motivado por preocupações humanitárias, mas queria ser visto como o país europeu capaz de mudar a política referente a Cuba", afirmou Omar Rodríguez Saludes, fotógrafo cubano que estava cumprindo uma pena de 27 anos antes de ser libertado. "Quando você vê o pouco que eles se importam com a gente, fica claro que éramos apenas uma moeda de barganha." / NTY

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