Título: Cruzeiro do Sul tinha R$ 2,5 bi em papéis
Autor: Bronzat, Aline
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2012, Economia, p. B3

O rombo do Cruzeiro do Sul pode afetar clientes de outras instituições. Um levantamento da Economática feito a pedido da 'Agência Estado' mostra que fundos de investimento somavam mais de R$ 2,5 bilhões investidos em Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs) ou Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) emitidos pelo banco.

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Algumas carteiras chegam a ter mais de 50% do patrimônio apenas em papéis do banco. As informações são do fechamento de fevereiro e levam em conta somente os fundos com dados abertos sobre as carteiras.

A maior exposição a papéis do Cruzeiro do Sul foi registrada no fundo "Gama FI Mult Cred Priv", gerido pela Bradesco Asset Management (Bram). O valor investido totalizava R$ 914,4 milhões em fevereiro, cifra correspondente a 53,5% do patrimônio total do fundo. Procurada, a gestora informou que o fundo em questão é exclusivo, com um único cotista.

Já o fundo "Verax I Fd Inv Mult LP Cred Priv" contava com 70,3% do patrimônio investido em DPGEs ou CDBs do Cruzeiro do Sul, totalizando R$ 2,6 milhões em fevereiro.

Como os fundos podem ficar sem divulgar informações sobre a composição de suas carteiras por três meses, de acordo com as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), não é possível afirmar se os investimentos dos fundos em papéis do Cruzeiro do Sul ainda existem.

Quando considerado o montante investido por gestora, a Bram possui o maior volume aplicado em CDBs ou DPGEs do Cruzeiro do Sul em fevereiro último, com R$ 930,4 milhões. Assim como no caso do fundo Gama, a gestora do Bradesco tem valores não revelados em abril e, portanto, não é possível afirmar se a posição apresentada em fevereiro ainda permanece.

Em seguida, estão as gestoras BB DTVM e Caixa, com R$ 271,6 milhões e R$ 269,2 milhões investidos em CDBs ou DPGEs, respectivamente, em fevereiro. Já o BTG Pactual, que chegou a fazer uma oferta de compra ao banco Cruzeiro do Sul, tinha R$ 193,1 milhões em papéis do banco.

Os investidores com ações do Cruzeiro do Sul na carteira de investimento deverão ser os primeiros a sentir o impacto da intervenção. Ontem, os papéis da instituição não foram negociados.

"Quem perde inicialmente são aqueles investidores que, por causa dessa intervenção, deverão vender as ações por um preço mais baixo do que o adquirido", afirma Ricardo Mollo, professor de finanças do Insper.

Segundo Mollo, os investidores que têm CDBs ainda não deverão ser prejudicados - o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) garante aplicações de até R$ 70 mil. Ele lembra que o Cruzeiro do Sul é uma instituição de pequeno porte e que o BC tem tomado medidas "acertadas e rápidas", assim como fez na intervenção no banco Panamericano em 2010. "Não há motivo para pânico. É preciso apurar para verificar se houve má gestão dos ativos, por exemplo", diz o professor do Insper.

Bônus externos. O FGC informou que não vai garantir os bônus externos emitidos pelo Cruzeiro do Sul e que somam saldo de R$ 2,8 bilhões ao final do primeiro trimestre, segundo o diretor executivo do Fundo, Antonio Carlos Bueno. Apesar de não garantir os bônus, ele disse que não se prevê calotes. / COLABOROU ALTAMIRO SILVA JÚNIOR