Título: Avanço dos serviços afeta produtividade
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2012, Economia, p. B4

Diversos fatores podem estar contribuindo para a recente queda da produtividade no Brasil. Para o economista Samuel Pessôa, sócio da consultoria Tendências, uma das razões é que o modelo brasileiro de crescimento puxado pelo consumo tende a estimular o setor de serviços, que é menos produtivo que a indústria.

A explicação para essa mudança de composição da economia é que a demanda aquecida pelo forte consumo puxa para cima o custo de se produzir no País, mas apenas os produtos industrializados sofrem, por causa da competição externa. Dessa forma, o setor de serviços, mais protegido do comércio internacional, avança em termos relativos, como consequência do recuo da indústria.

Como os serviços são em média menos produtivos que o setor industrial, há perda de produtividade nesse rearranjo da economia.

Outra possível explicação apontada por Pessôa é a interrupção do ciclo de reformas liberalizantes iniciadas com a abertura comercial do governo Collor, mas cujo período mais significativo foi do Plano Real em 1994 até a queda de Antônio Palocci do Ministério da Fazenda em 2006.

"O governo hoje intervém cada vez mais, faz um microgerenciamento da economia, e cada medida que se toma para defender um setor cria muitas distorções, que vão se acumulando e acabam prejudicando a produtividade", diz Pessôa.

Um exemplo de como a arbitrariedade das regras do jogo pode afetar a produtividade é o setor sucroalcooleiro. O etanol é vendido a 70% do preço da gasolina, que passa por um longo período de congelamento. Somado à queda do preço do açúcar no mercado internacional, o baixo preço da gasolina está provocando estrago num setor que era saudado como uma das fronteiras mais dinâmicas da economia brasileira nos últimos anos.

A Usina Dracena, por exemplo, no município paulista de mesmo nome, reduziu a quantidade colhida para 950 mil toneladas, apesar da capacidade de moer 1,5 milhão de toneladas. Como disse o superintendente Pedro Collegari em recente entrevista ao Estado, a redução da quantidade colhida "nos obriga a operar abaixo da capacidade". Em consequência, há um aumento relativo de custos fixos, de manutenção e pessoal.

A incerteza sobre como decisões arbitrárias de política econômica, como manter a gasolina congelada mesmo com alta do preço de petróleo, afetarão os negócios naturalmente inibe o investimento.

Tributação. Outro grande entrave para o crescimento da produtividade no Brasil, para empresários e economistas, é o sistema tributário, que além de representar um alto custo (comparado ao de outros países emergentes), é extremamente complexo. A complicação de cumprir todas as obrigações tributárias consome dinheiro e recursos humanos das empresas, semmelhorar os produtos e a forma de produzi-los.

Marco Antônio Gaspar, vice-presidente para pequenas e médias empresas da Câmara de Diretores Lojistas (CDL) de Minas Gerais e diretor de uma das papelarias que integram a Multimix, rede de 25 lojas em Belo Horizonte, observa que há em média 15 decretos mensais alterando o ICMS mineiro, num padrão que se repete por todos os Estados.

"No Brasil, se gasta um dinheiro absurdo em horas-homem para manter toda a escrita contábil para o governo, não dá para entender o porquê de tanta complexidade", ele diz.

Para vários economistas, por outro lado, um dos maiores problemas do Brasil hoje é a perda de competitividade, especialmente da indústria, pelo encarecimento do custo do trabalho, relativamente aos competidores internacionais.

Se o custo do trabalho subisse, mas a produtividade acompanhasse, a competitividade internacional sofreria menos. Mas a combinação entre mercado de trabalho aquecido, câmbio real valorizado (um pouco menos agora, mas ainda num nível historicamente alto) e produtividade estagnada ou em queda é muito prejudicial à indústria.

Com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o economista Fernando Rocha, sócio da gestora de recursos JGP, calculou que, nos 12 meses até março, a produtividade na indústria caiu 0,7%, ao mesmo tempo que o custo unitário do trabalho (o gasto com trabalho e encargos por unidade de produção) aumentou 6,2%.

"Ficou mais caro operar. Alguns setores perderam competitividade e isso inibe o investimento", comenta Rocha.