Título: Investimentos sofrem as consequências
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2012, Economia, p. B4

"A estagnação da produtividade é o gato que subiu no telhado em termos de crescimento, e o fato deste processo durar vários trimestres é um sinal de que a economia também deve entrar em estagnação", avalia Samuel Pessôa, sócio da consultoria Tendências e pesquisador do Ibre.

O economista Claudio Frischtak, presidente da Inter. B - Consultoria Internacional de Negócios, considera que análises sobre produtividade só fazem sentido em prazos mais longos, e que é prematuro julgar que há uma tendência de queda a partir do governo de Dilma. Ele nota que o indicador no curto prazo tende a acompanhar as oscilações do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2003, por exemplo, o difícil primeiro ano do governo Lula, quando a economia cresceu apenas 1,15%, a produtividade teve uma queda de 2,4%.

Pessôa retruca que "dois anos de fato é pouco, mas é suficiente para olhar a tendência na margem". Ele nota que é especialmente preocupante que a produtividade esteja em baixa com o emprego em alta, ao contrário do que ocorreu em 2003, quando o desemprego subiu.

Silvia Matos, economista do Ibre, fez cálculos com os números do Brasil que mostram que a queda da produtividade está contribuindo para a forte desaceleração dos investimentos.

"A causalidade vai da produtividade para o investimento", ela diz. A razão para se investir menos, quando cai a produtividade, é que o retorno dos negócios piora, e a competitividade se deteriora.

Investimento. Segundo Silvia, para cada ponto porcentual de crescimento da produtividade, os investimentos crescem 4 pontos porcentuais adicionais ao longo de um ano. "Se a produtividade seguisse crescendo no ritmo anual do segundo mandato de Lula, de 1,9%, os investimentos teriam crescido 13% em 2011, e não 4,7%." Para 2012, a economista prevê crescimento nulo dos investimentos, e queda de 1% na produtividade.

Segundo Pessôa, é impossível manter um ritmo forte e sustentado de crescimento apenas aumentando os investimentos e as horas trabalhadas. "É um crescimento de tipo soviético, que acaba se esgotando", ele alerta.

No caso do Brasil, acrescenta o economista, seria mais difícil ainda crescer com um mau desempenho da produtividade. A razão é que o País tem uma baixa taxa de poupança, inferior a 20% do PIB, e precisa da poupança externa para complementar o financiamento dos investimentos. Se estes crescem muito, é necessário trazer grandes volumes de poupança externa, o que significa aumentar o déficit em conta corrente para níveis arriscados.

Segundo dados da Penn World Table, base de dados internacionais da Universidade da Pensilvânia, a produtividade brasileira cresceu uma média de 3% ao ano de 1955 a 1976.

No período turbulento da economia brasileira de 1977 a 1995, que vai do segundo choque do petróleo ao Plano Real, a produtividade caiu fortemente. No governo de Fernando Henrique Cardoso, o indicador ficou praticamente estagnado, voltando a crescer a partir de 2004. / F.D.