Título: Banco Cruzeiro do Sul não deve ser o último
Autor: Modé. Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2012, Economia, p. B7

Desde novembro de 2010, seis pequenos e médios bancos brasileiros deixaram de operar e a expectativa é que a turbulência vai continuar 10 de junho de 2012 | 3h 09 Notícia A+ A- Assine a Newsletter LEANDRO MODÉ - O Estado de S.Paulo Panamericano, Morada, Schahin, Matone, Prosper e Cruzeiro do Sul. A lista de bancos de pequeno e médio porte que fecharam as portas nos últimos 20 meses não para de crescer. Pior: deve ganhar mais alguns integrantes nos próximos meses, pois é consenso que esse segmento do mercado passa por uma mudança estrutural.

Banqueiros e analistas descartam o chamado risco sistêmico, mas veem turbulências à frente. Novas fusões e aquisições são dadas como certas até o fim do ano.

Essas seis instituições que deixaram de operar de novembro de 2010 para cá tinham, somadas, R$ 36 bilhões em ativos, o equivalente a 1% do sistema financeiro nacional. Parece um número baixo, mas, quando se fala de setor bancário, todo cuidado é pouco. "As instituições financeiras são interligadas. Um problema em um banco pequeno pode se refletir em todo o sistema", explica o analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu.

Um exemplo claro do que ele diz é o do banco de investimentos americano Lehman Brothers, que foi à falência em setembro de 2008 e detonou a crise global que perdura até hoje. Na ocasião, o Lehman era apenas o quinto maior entre os bancos de investimento, uma formiga perto de gigantes como o Bank of America e o Citibank.

Por isso, quando um banco como o Cruzeiro do Sul sofre intervenção, como ocorreu no início da semana passada, a cautela toma conta de todo o sistema.

É uma situação que prejudica justamente as instituições menores, que têm mais dificuldades para captar dinheiro. "Por causa do Cruzeiro do Sul, sou novamente obrigado a abandonar o planejamento estratégico. Meu único foco é a liquidez do dia a dia", desabafou um presidente de banco de médio porte.

Crédito. Um experiente banqueiro sintetiza o que está acontecendo no País. "Esse modelo de banco que vive de cessão de crédito não se sustenta mais", afirmou. Ele refere-se a instituições que se especializaram em empacotar milhares de empréstimos e revendê-los para bancos maiores com desconto. Ao receber o pagamento, elas voltavam a conceder crédito, que eram empacotados outra vez. E assim a roda girava.

As fraudes do Panamericano, concentradas no negócio de cessão, machucaram mortalmente esse mercado. Se já não bastasse isso, entrou em vigor neste ano a resolução 3.533 do Banco Central (BC). A nova regra proibiu as instituições financeiras de computar de imediato o lucro obtido com a venda de carteiras de crédito. A partir de janeiro de 2012, passaram a ser obrigadas a incluir no balanço o ganho apenas quando ele se confirmar.

Um exemplo hipotético mostra a profundidade da mudança. Uma carteira com vencimento em cinco anos vendida inicialmente por R$ 100 milhões pode, ao final do período, valer R$ 85 milhões por causa de eventuais calotes.

Antes, o banco vendedor teria computado os R$ 100 milhões como lucro à vista. Agora, pode incluir apenas os R$ 85 milhões diluídos ao longo dos cinco anos.

O estouro da crise global, em 2008, explicitou o problema estrutural. Até então, o dinheiro fácil que migrou para os bancos brasileiros via aberturas de capital (os chamados IPOs) e produtos de renda fixa (como bônus) o escondia.

A quebra do banco Lehman Brothers tornou tal problema ainda mais agudo. Tanto que, na ocasião, o governo brasileiro implementou medidas emergenciais para fornecer liquidez às instituições financeiras de menor porte.