Título: Em Prudentópolis, soja toma lugar do feijão
Autor: de Chiara, Márcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2012, Economia, p. B10

Pelo segundo ano consecutivo, Edmir Servat, há 40 anos plantando feijão-preto em Prudentópolis, que fica no centro- sul do Paraná e é o maior município produtor de feijão-preto do País, vai reduzir a área semeada com o grão. Só que desta vez o corte será mais radical, isto é, pela metade: de 20 para 10 alqueires. No ano passado, a redução tinha sido de um terço, de 30 para 20 alqueires.

"Não tem como concorrer com a China e a Argentina. O custo de produção deles é mais baixo do que o nosso", diz Servat. A área, que inicialmente estava programada para o feijão-preto, será semeada com soja. A opção pela soja é por causa do preço mais atraente. Dizem que a saca de soja vai chegar a R$ 53.

Tradicional produtor de feijão-preto, ele diz que não imaginava que um dia reduziria a área plantada. Mas também diz que não pensa em desistir dessa lavoura. "O feijão é uma cultura de ciclo rápido (três meses) e não dá para deixar de plantar."

Servat não é o único produtor de Prudentópolis que optou por reduzir a área cultivada com feijão-preto. Os cerca de 8 mil pequenos produtores da Cooperativa Agrícola Mista de Prudentópolis sinalizaram com uma redução de 40% da área plantada da safra que será semeada no mês que vem: de 25 mil hectares para 15 mil hectares, conta o engenheiro agrônomo da cooperativa, José Tarcísio Pontarolo. E o motivo do corte é o mesmo: a concorrência chinesa. "O volume importado não é grande, mas faz um estardalhaço", avalia.

Nas três safras, o município colheu no ano passado 35 mil toneladas de feijão-preto. Não há estatísticas discriminadas sobre a produção nacional de feijão-preto, mas o analista da consultoria Safras & Mercado, Renan Gomes, calcula que a fatia do feijão-preto varia entre 15% e 20% da produção total. A predominância é do feijão carioca.

Projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) do Ministério da Agricultura, divulgadas na semana passada, indicam que a safra total de feijão (preto e cores) 2011/2012 deve somar 2,97 milhões de toneladas, com recuo de 20,4% em relação à do ano anterior. "Com um consumo médio nacional de 3,6 milhões de toneladas, estimado pela Conab, a produção total será insuficiente, abrindo espaço para importações", observa a economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Tania Moreira. O principal Estado produtor de feijão é o Paraná, com 705,2 mil toneladas na safra 2011/2012, volume 14,1% menor que na safra 2010/2011 por causa do clima e da concorrência de importados.

Se a projeção da Conab se confirmar, a produção nacional de feijão-preto 2011/2012 deve oscilar entre 450 mil e 600 mil toneladas. Tania diz que as importações de feijão-preto quase triplicaram no primeiro quadrimestre do ano: somaram 78,2 mil toneladas, ante 28,2 mil toneladas em igual período de 2011.

M.C.