Título: Resgate de 100 bilhões evita intervenção na Espanha, mas não resolve a crise da Europa
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2012, Economia, p. B1

O pacote de socorro de até € 100 bilhões aprovado pela União Europeia e pelo Banco Central Europeu (BCE) para recapitalizar o sistema financeiro da Espanha não resolveu a crise das dívidas e, além disso, fragilizou o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy. Em seu primeiro pronunciamento, o chefe de governo tentou mascarar a gravidade da situação comemorando "ter evitado uma intervenção" de Bruxelas e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Rajoy admitiu, no entanto, que, apesar da ajuda aos bancos, a crise na Espanha deve piorar. O país permanecerá preso em sua segunda recessão em três anos, e mais espanhóis vão perder seus empregos em um país onde uma em cada quatro pessoas já está desempregada, disse ele.

O premiê vem sendo criticado pela oposição e pela imprensa por sua gestão de crise e deve ter de se explicar ao Parlamento nos próximos dias. O silêncio de Rajoy teve início na tarde de sábado, quando o ministro da Economia, Luis de Guindos, foi destacado para anunciar à imprensa o acordo que garantirá até € 100 bilhões para a recapitalização do sistema financeiro da Espanha, abalado desde o início da crise do mercado imobiliário, em 2008.

Ontem, Rajoy fez seu primeiro pronunciamento sobre o pacote de socorro - o quinto concedido por Bruxelas, depois da Grécia, por duas vezes, da Irlanda e de Portugal terem recebido apoio financeiro. "Estou muito satisfeito, e creio que ultrapassamos uma etapa decisiva", disse. "Se não tivéssemos feito o que fizemos nos últimos cinco meses, o que teria acontecido seria uma intervenção na Espanha." O premiê também citou os números do pacote em tom de elogio. "Obter uma linha de crédito de € 100 bilhões não foi nada fácil."

Rajoy assegurou ainda que os juros do pacote de socorro não incidirão sobre o déficit público, já elevado. Em 2011, a Espanha registrou um rombo de 8,9% do Produto Interno Bruto (PIB) nas contas governamentais, e precisa reduzir o buraco a 5,3% até o fim de 2012. Tudo em um cenário de alto endividamento dos governos regionais e de desemprego em massa, que chegou a 24,44% no primeiro trimestre.

Como Guindos havia feito no sábado, Rajoy garantiu que o pacote de socorro não representa nenhum tipo de intervenção na gestão econômica da Espanha. Nenhum novo plano de austeridade teria sido acordado. A única exigência, segundo ele, é que as reformas já iniciadas, como a do mercado de trabalho e da previdência, sejam mantidas.

Na entrevista, Rajoy não usou as palavras "socorro" e "resgate" - o que foi interpretado como uma tentativa de demonstrar normalidade. Com esse espírito, Rajoy disse que assistiria ao jogo Espanha e Itália, na Polônia, no que foi duramente criticado. Analistas dizem que, apesar de o pacote evitar uma catástrofe iminente, os bancos do continente continuam a correr sério risco. / COM AFP E AP