Título: Os argentinos precisam ouvir a nossa voz
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2012, Internacional, p. A14

Mais jovem membro da delegação de quatro pessoas das Ilhas Malvinas (Falldands para os britânicos) para participar dos debates no Comitê de Descolonização da ONU em Nova York, Krysteen Ormond, de 23 anos, nasceu no arquipélago, fala espanhol e morou na Argentina. Seu pai foi soldado britânico e lutou contra os argentinos. Sua mãe foi prisioneira de guerra. A jovem diz entender a posição da maioria dos argentinos sobre a soberania do arquipélago, mas defende o direito dos ilhéus de escolher o próprio destino. Sobre o referendo, diz: "Eles perderão o argumento de que somos escravos do Império Britânico" .

Há quanto tempo sua família está nas Malvinas?

Sou da quarta geração.

Por que você decidiu morar na Argentina?

Eu estudo política da América Latina em universidade britânica e eles possuem um programa de intercâmbio para ir para Córdoba. Achei que seria muito importante para meu desenvolvimento como pessoa, para minha identidade, ver como é a vida na Argentina. Fiquei morando lá por 15 meses.

O que seus amigos argentinos te perguntavam? Vocês discutiam muito sobre as ilhas?

Eles eram muito curiosos. Alguns eram radicais na defesa de que as Falklands eram argentinas e nada mudará a posição deles. Para o bem da amizade, não discutimos mais política. Outros achavam que a Argentina tinha problemas mais graves para resolver em vez de pensar em política externa.

A posição do governo argentino representa a visão dos seus amigos?

Acho que entre 40% e 60% de seus amigos concordam com o governo. Faz parte da identidade cultural da Argentina. Não é algo apenas político.

Você e os outros membros da delegação usam a expressão Ilhéus, e não kelpers. É ofensivo usar o segundo termo?

Sim, alguns consideram preconceituoso especialmente pela forma pejorativa que os argentinos falam kelpers. Mas nos anos 70 era comum os moradores das Falk1ands dizerem kelpers e era algo que nos deixava orgulhosos. A identidade mudou.

Como você acha que os argentinos verão o referendo?

Eles podem não concordar, mas precisarão escutar nossa voz e perderão o argumento de que somos escravos do Império Britânico.