Título: Multidão sai às ruas de cidades russas em protesto contra repressão de Putin
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2012, Internacional, p. A11

Crise. Cerca de 100 mil pessoas se reuniram em Moscou e outras milhares em São Petersburgo na maior manifestação da oposição desde a posse do presidente, em maio; novo governo adotou medidas para impedir realização de grandes atos contrários ao Kremlin

MOSCOU - O Estado de S.Paulo

Cerca de 100 mil pessoas ocuparam ontem as ruas de Moscou e de São Petersburgo para protestar contra o contra o terceiro mandato do presidente russo Vladimir Putin. Apesar da forte repressão da polícia aos líderes da oposição nos últimos dias, foi a maior manifestação contra o governo desde a posse de Putin, em maio.

O Ministério do Interior russo tentou minimizar o protesto em Moscou e estimou que a chamada Marcha dos Milhões reuniu aproximadamente 18 mil manifestantes. Visualmente, no entanto, era evidente que a passeata tinha sido bem maior.

Sempre cercada por um grande contingente policial, a multidão, composta por jovens que usavam fitas brancas, ocupou uma faixa de pelo menos um quilômetro de extensão da ampla Avenida Sakharov, que seguia até a Praça Pushkin.

O forte esquema de segurança não impediu que os russos acompanhassem os comícios de perto. "Queridos amigos, estão com medo de nós, mas nós não temos medo deles", afirmou o líder opositor Boris Nemtsov. Para chegar ao local onde os principais líderes discursaram, os manifestantes precisaram cruzar cinco cordões policiais, incluindo detectores de metais.

Outro líder opositor, Sergei Udaltsov, um dos primeiros a falar, sugeriu a realização de mais um grande protesto no dia 7 de outubro e propôs "vigílias populares indefinidas" para exigir a libertação das 13 pessoas que foram detidas após a manifestação de 6 de maio, dia da posse de Putin, que terminou em violência - ao todo, 250 pessoas foram detidas.

Repressão. Nos protestos de ontem, o deputado social-democrata do Partido Rússia Justa, Ilya Ponomariov, propôs a formação de um órgão único de direção para articular as exigências e as ações da oposição. "Temos de votar todos juntos pela criação de um órgão único de direção que seja capaz de levar adiante um programa para todo o país", disse.

O deputado Gennadi Gudkov, também social-democrata, exigiu a renúncia de todos os membros da Comissão Eleitoral Central (CEC) e a convocação de novas eleições parlamentares e presidenciais. "Seguiremos saindo às ruas até que essas exigências sejam cumpridas. Se nos tirarem da rua, com prisões e multas, iniciaremos ações de desobediência civil", afirmou.

Outros líderes da oposição, como Ilya Yashin, Ksenia Sobchak e Alexei Navalni, não puderam discursar porque tiveram de comparecer a um comitê de investigação policial para prestar declarações sobre as manifestações contra Putin realizadas no mês passado.

O protesto de ontem foi organizado em um clima de grande tensão. Na segunda-feira, dezenas de casas de líderes da oposição foram revistadas. A polícia confiscou telefones celulares, computadores e dinheiro. A ação foi condenada por Washington e fez surgir o temor de que Putin, ex-agente da KGB, possa levar o país a um retrocesso político.

Reação. Ao saírem em grande número às ruas da capital, os opositores também desafiaram a lei de comícios, que entrou em vigor no domingo. A legislação endureceu as sanções para os que descumprirem as normas a respeito da realização de atos públicos em Moscou.

Ontem, muitos líderes criticaram abertamente a lei, que estipula, sob pena de multa, que o número de manifestantes não deve superar os 50 mil. "Temos direito de nos reunir livremente e de dizer às autoridades aquilo que acharmos necessário", disse Gudkov.

Putin reagiu rápido e prometeu ontem que não permitirá que seus seis anos de mandato sejam abalados por revoltas. "Não podemos aceitar nada que enfraqueça nosso país e divida a sociedade", declarou o presidente durante as comemorações do feriado nacional russo. "Qualquer decisão ou medida que leve a distúrbios sociais e econômicos é inaceitável." / REUTERS, AFP e ASSOCIATED PRESS