Título: Oferta de crédito favorece o aumento do consu
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2012, Opinião, p. B2

Segundo pesquisa da Associação Comercial de São Paulo divulgada na terça-feira, no mês de maio a confiança do consumidor se manteve otimista. Ontem também, a Associação dos Shoppings de São Paulo estimava, por sua vez, que o aumento das vendas, neste ano, poderá chegar ao dobro do aumento do PIB, previsão que indica que o setor acredita na continuidade do modelo de crescimento estimulado pelo consumo.

Os fatores que explicam essa perspectiva para o consumo, num quadro de endividamento considerado como excessivo, continuam sendo o aumento das operações de crédito acompanhadas, porém, de uma redução do custo dessas operações.

Segundo o indicador Serasa Experian, a demanda dos consumidores por crédito cresceu 14%, em maio, ao passo que havia recuado 11,2%, em abril. O fato de destaque é que a demanda das pessoas com renda mensal de até R$ 500 cresceu mais 16,5%. Aquelas cuja renda vai de R$ 500 até R$ 1.000 aumentaram sua demanda de crédito em 15%. Com o reajuste de 14% do salário mínimo, era normal que se esperasse mais endividamento das pessoas de renda mais baixa, embora seja uma reação que só apareça mais tarde.

Admitindo que essa demanda de crédito vinha sendo atendida pelas instituições financeiras, isso representaria um aumento do endividamento que explicaria uma queda do consumo. Mas, com a redução das operações de crédito para habitação, não deve ter havido um aumento do endividamento geral.

No entanto, outros dados justificariam uma queda da demanda. Em abril, segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, realizada pelo IBGE, o emprego caiu 0,3% e 0,9% no primeiro quadrimestre, o número das horas pagas caiu 0,8% na indústria e a folha de pagamentos real também caiu 0,3%.

Até o fim do ano passado, a situação do emprego era boa e estimulava o risco de se endividar. No entanto, neste ano estamos assistindo a uma redução progressiva do emprego e, mesmo com uma inflação baixa, o poder aquisitivo está se reduzindo. Temos de acrescentar que as indústrias estão fazendo um esforço para manter seus trabalhadores qualificados, ou seja, o emprego diminui mais entre trabalhadores de salário mínimo.

Estamos diante de um quadro em que o endividamento deverá crescer, reduzindo o consumo e elevando a inadimplência geral, a menos que o governo consiga aumentar e acelerar seus investimentos na infraestrutura, um dos setores que mais absorvem a mão de obra não qualificada.