Título: Resultado do fluxo cambial em maio merece atenção
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2012, Economia, p. B2

A desvalorização do real ante o dólar foi certamente o fator que mais contribuiu para que o fluxo cambial ficasse negativo em US$ 2,691 bilhões, em maio. Mas não foi o único fator. O Brasil, por diversas razões, perdeu a atratividade internacional de que desfrutou nos últimos meses.

É importante frisar que o segmento comercial do fluxo cambial, que abrange operações ligadas ao comércio exterior (inclusive os financiamentos dessas operações), ficou positivo em US$ 3,636 bilhões, com exportações que alcançaram US$ 22,180 bilhões e importações de US$ 18,544 bilhões. Pode-se dizer que aí a desvalorização do real teve efeito positivo, pois permitiu aumentar as exportações e reduzir as importações. No entanto, não se pode menosprezar neste resultado a alta do preço das commodities, como assinalou o índice do Banco Central.

Entretanto, a saída, em maio, de US$ 34,784 bilhões, ante uma entrada de US$ 28,457 bilhões, representa um fato altamente negativo, merecedor de uma análise que, na ausência de dados detalhados, por enquanto, não pode ser completa.

As saídas de dólares, quando por vias normais, referem-se à venda de ações e títulos de renda fixa, remessa de lucros e dividendos, amortizações de empréstimos, retorno de investimentos produtivos. Certamente, a queda contínua das ações na Bolsa favoreceu a venda desses papéis, o que mostra que não podemos ser indiferentes à evolução das operações bolsistas muito dependentes de capital estrangeiro. A desvalorização do real acabou com o interesse dos especuladores nas operações de arbitragem. Mas, sem dúvida, o fato mais negativo foi a queda dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs). Alguns desses investimentos foram retirados do Brasil em função da queda de ritmo do crescimento econômico, que afetou também a vinda desses capitais. Não foi só essa, entretanto, a razão da parada do ingresso de investimentos. As novas orientações da política econômica estão atemorizando investidores que tinham total confiança na política seguida quando Henrique Meirelles era presidente do Instituto de Emissão. Considera-se no exterior que estamos indo depressa demais na redução do custo do dinheiro, e também cria certo mal estar a adoção de uma política creditícia diferenciada conforme os setores de atividade.

Não podemos, finalmente, esquecer de que o Brasil não escapa das consequências do atual clima internacional, em que a captação de recursos externos se tornou mais difícil e mais custosa.