Título: Queda de juro chinês favorece o Brasil
Autor: Trevisan, Caludia ; Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2012, Economia, p. B3

Medidas anunciadas ontem devem elevar preço do minério e estimular exportações

A redução dos juros e os investimentos anunciados ontem pelo governo da China devem ter efeito positivo na economia brasileira, estagnada desde o início do segundo semestre de 2011. Um dos principais reflexos deve ser a alta do preço do minério de ferro, principal produto de exportação do Brasil, segundo avaliação de cinco analistas consultados pela agência de notícias Bloomberg. A estimativa média é que a cotação alcance US$ 152 a tonelada no segundo semestre, depois dos US$ 131 registrados anteontem.

Ontem, as bolsas da Europa e dos Estados Unidos reagiram em alta com a notícia. Os juros na China haviam sido elevados cinco vezes desde 2010. Até agora, o Brasil era um dos poucos países a cortar os juros em meio a um cenário de tantas incertezas.

Para economistas ouvidos pela Agência Estado em Nova York, o estímulo monetário na China permitirá um avanço nas exportações brasileiras, com a melhora dos termos de troca, além de reforçar investimentos estrangeiros diretos e reanimar as expectativas de empresários.

"Esta ação inesperada vai ajudar o Brasil na venda de seus produtos para a China, no ingresso de dólares via investimento direto", disse Tony Volpon, diretor de pesquisa para mercados emergentes na América Latina da corretora Nomura Securities. "Além disso, vai incrementar a percepção de que este parceiro comercial extremamente importante não vai apresentar um pouso forçado neste ano."

Crescimento. Economistas da corretora japonesa Nomura estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) da China crescerá 8,4%. Isso está acima do piso de 7,5% estabelecido pelo governo chinês para o crescimento econômico em 2012. Para especialistas, a decisão do banco central chinês atenua o pessimismo que tomou conta dos mercados nas últimas semanas por causa da paralisia política na zona do euro.

Segundo Volpon, "a China salvou o mundo" em 2008 e 2009 quando adotou um robusto programa de investimentos próximo a US$ 500 bilhões com o objetivo de sustentar seu patamar de crescimento num momento em que a economia global ingressava na pior recessão desde a Grande Depressão de 1929.

"Muito da expansão de 7,5% do PIB registrada pelo Brasil em 2010 foi motivada pela reação vigorosa da China com aquele pacote fiscal", disse. Ele ressaltou que a vinculação da economia brasileira à chinesa é tão forte que uma parcela da avaliação negativa de investidores em relação ao País surgida recentemente vinha da avaliação generalizada de que as autoridades em Pequim não agiriam com rapidez para sustentar seu padrão de expansão como fez há três anos.

Na opinião de Alberto Ramos, diretor de pesquisas para a América Latina do banco Goldman Sachs, a redução dos juros na China diminui as chances de revisar para baixo sua previsão de crescimento de 2,9% para o Brasil neste ano. A sua projeção se tornou otimista em comparação a uma série de revisões de estimativas do PIB nacional em 2012, ocorrida nesta semana depois da economia ter registrado um fraco incremento de 0,2% no primeiro trimestre ante o anterior.

A Nomura e a consultoria Tendências esperam que a economia brasileira tenha uma expansão de 1,9% neste ano, enquanto os economistas do Itaú Unibanco projetam 2%.

Para as consultorias MCM e LCA, a taxa será de 2,2%. Para Tony Volpon, o corte de juros na China melhora a sensação de investidores sobre os rumos da economia global neste ano, juntamente com a expectativa de que os bancos na Espanha poderão receber reforço de capital de instituições europeias.