Título: Grande demais para falir, país negocia resgate bancário
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2012, Economia, p. B4

Enquanto 12.ª maior economia do mundo e 4.ª maior da zona do euro, a Espanha, de acordo com o senso comum, é grande demais para falir. Mas todos os sinais são de que o país não é grande demais para um resgate de seus bancos.

Os mercados subiram nesta semana, em parte pelo otimismo que os governantes da zona do euro, conhecidos por serem mestres na improvisação, cheguem a um acordo com Madri sobre os termos de um resgate bancário e, assim, afastem a mais recente ameaça à moeda comum.

A Espanha, com confiança crescente que conseguirá ajuda sem alguma carga extra humilhante que normalmente acompanhe as operações de socorro, está procurando maneiras de cobrir um déficit de capital de um punhado de bancos problemáticos de pelo menos 40 bilhões, segundo fontes do setor financeiro, em Madri.

Se a Espanha procurar por ajuda externa, espera-se que peça recursos ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), de 440 bilhões, ou seu sucessor, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), de 500 bilhões, que passará a funcionar a partir de julho. "O governo espanhol deve considerar todas as opções", disse o ministro das Finanças sueco, Anders Borg. "Temos de encontrar maneiras de lidar com isso razoavelmente rápido porque esta é hoje a maior ameaça à economia mundial", disse Borg, cujo país não é um dos 17 membros da moeda única.

Ressaltando a gravidade da situação de Madri, a agência de classificação de crédito Fitch rebaixou ontem a nota da Espanha em três degraus.

Essas são apostas altas para a Espanha e para a economia global. Para usar uma frase popularizada em 1984, quando a administração de Ronald Reagan resgatou o sétimo maior banco dos Estados Unidos, o Continental Illinois, porque seu colapso teria provocado uma crise que deixaria todos os americanos mais pobres, a Espanha, ao que parece, é "grande demais para falir".

Se os bancos espanhóis quebrarem, sob o peso de empréstimos imobiliários ruins, o governo de Madri teria de resgatar as instituições sozinho e depois ir à luta para pagar seus próprios credores, possivelmente ficando inadimplente ou sendo forçado a deixar a zona do euro. O caos que provocaria na economia mundial é o que justifica o preço que outros governos estão dispostos a pagar para evitar essa crise.

Em contraste, a Grécia, com apenas 11 milhões de pessoas - ante 46 milhões da Espanha - e com um sistema bancário e com o comércio menos integrado com seus vizinhos da União Europeia, pode ser deixado à sua sorte se os eleitores este mês elegerem um governo que rejeita os termos de um resgate.

O resgate bancário espanhol que está em debate na Europa pode indicar uma mudança no poder político da Europa, uma vez que os governantes busquem formas de colocar a moeda única em bases mais sólidas.