Título: Agência rebaixa nota de risco da Espanha
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2012, Economia, p. B4

Classificação sofre queda de três níveis na escala, de "A" para "BBB"; para a Fitch, país pode precisar de 100 bi para recapitalizar bancos

No olho do furacão da crise europeia, a Espanha sofreu ontem mais um revés causado pela crescente perda de credibilidade diante dos investidores estrangeiros. A agência Fitch Ratings anunciou o rebaixamento da nota dos títulos da dívida soberana do país em três níveis, chegando a BBB.

A decisão reflete a desconfiança dos mercados sobre a capacidade do governo de Mariano Rajoy de enfrentar a turbulência sem um pacote de socorro externo. Ontem, experts do Fundo Monetário Internacional (FMI) avaliaram o valor necessário para recapitalizar o sistema financeiro espanhol em € 40 bilhões.

O rebaixamento fez desabar a nota da Espanha de A para BBB, o equivalente à perda de três níveis. Por ora, a economia do país segue classificada como "grau de investimento". O viés negativo escolhido pela Fitch, porém, reforça a possibilidade de perda dessa chancela. Além disso, o parecer das agências tende a agravar a dificuldade de Madri de se refinanciar nos mercados, pois o rating é usado como um dos parâmetros para avaliar o grau de confiança dos investidores que compram obrigações soberanas.

Madri já enfrenta a pressão dos mercados, tendo de pagar juros de cerca de 6,4% por títulos com validade de 10 anos. O governo de Rajoy ainda tem de refinanciar € 18 bilhões em dívidas ao longo de 2012. A emissão de novos bônus era uma alternativa - ainda que remota - para recapitalizar seu sistema financeiro.

Segundo a nota oficial da Fitch, o custo de uma recapitalização poderia ficar entre € 60 bilhões e € 100 bilhões - estimativa bem mais pessimista do que a maior parte dos analistas de mercado. Ontem, o FMI avaliou a necessidade de socorro em 40% desse teto. Para a agência, aumentar o capital dos bancos sem a colaboração externa da União Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do FMI elevaria a dívida do país a 95% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012.

Sem esse gasto, o prognóstico é de 82% do PIB até o fim 2013.

Na prática, o rebaixamento pela Fitch é mais uma peso sobre as costas do primeiro-ministro. Rajoy vem sendo pressionado por Berlim e Bruxelas a aceitar o mais rápido possível um pacote de socorro aos bancos. Na terça-feira, o ministro de Finanças da Espanha, Cristóbal Montoro, reconheceu que o país precisa de ajuda urgente, mas propôs que recursos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira sejam repassados diretamente de Bruxelas para as instituições que necessitam de mais liquidez. A chanceler alemã, Angela Merkel, não aceita essa alternativa: ela exige que a ajuda seja enviada ao governo espanhol, que seria o intermediário entre os bancos.

Madri insiste no repasse direto de Bruxelas aos bancos porque não quer assinar um pacote de socorro com a UE, o BCE e o FMI. Essa alternativa representaria, na visão do governo espanhol, a intervenção externa e a perda de soberania econômica do país - como já acontece com a Grécia, a Irlanda e Portugal. Já Berlim se recusa a emprestar recursos sem a garantia de que Madri será obrigada a colocar em prática medidas de austeridade mais profundas do que as adotadas desde 2008.

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