Título: Vice que americanos querem no lugar de Assad sumiu de cena
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2012, Internacional, p. A8

Os EUA buscam quebrar a base de suporte de Bashar Assad, tentando demonstrar aos que o apoiam a existência de uma alternativa ao atual regime. Membros das minorias cristãs e alauitas, assim como empresários e generais da Síria, incluindo sunitas, temem um cenário caótico caso o líder sírio seja removido. "Há muitos em cima do muro. Precisamos criar uma via política como alternativa a Assad para convencê-los de que há uma saída", disse ontem a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland.

A declaração reforça a defesa feita pela secretária de Estado, Hillary Clinton, de uma solução "iemenita" para a crise síria. O objetivo é criar um cenário no qual os atores internos na Síria, ou mesmo no exterior, comecem a visualizar a possibilidade de uma mudança no poder sem intervenção externa e guerra civil, como ocorreu no Iêmen quando Abdullah Saleh concordou em deixar o poder. Assad transferiria o poder para seu vice, conforme ocorreu com Saleh no Iêmen, que cedeu a presidência para seu número dois, Abd Mansur al-Hadi. O problema é que, na Síria, não existe apenas um vice-presidente, mas dois.

O mais conhecido deles é Farouk al-Sharaa. Sunita e de viés moderado, ele foi chanceler por muitos anos e é considerado uma figura mais amena do regime. Os EUA veem nele um nome perfeito para assumir a transição, por ser ligado ao Partido Baath e também integrar a seita sunita. No mundo árabe, a grande pergunta é sobre onde anda Al-Sharaa. O vice sumiu da cena política síria nos últimos meses, desde que a solução iemenita começou a ser cogitada. O mistério se intensificou com a sua ausência em discurso de Assad no Parlamento na semana passada. No lugar, estava a segunda vice-presidente, Najah al-Attar. Doutora em literatura árabe, ela sempre foi proeminente no Baath, mas não é conhecida fora do país. Ironicamente, seu irmão, Isam al-Attar, é um dos líderes da Irmandade Muçulmana da Síria, que luta contra Assad, e vive no exílio.